Subnotificação

São Paulo ignora regra federal e omite dados sobre microcefalia

Dados divergentes apontam para desrespeito do estado a orientação do Ministério da Saúde. Cerca de 200 casos não foram repassados ao controle federal

ebc/arquivo

A microcefalia pode estar associada ao zika vírus que, por sua vez, é transmitido pelo mosquito aedes aegypti

São Paulo – Levantamento do portal do El País, divulgado hoje (26), aponta para 210 casos da doença registrados pelos municípios. Já o estado divulgou dados, presentes em boletim do Ministério da Saúde publicado no dia 20, com grande diferença: apenas 18 casos, de acordo com as autoridades locais.

O Ministério da Saúde orienta estados e municípios a notificar todos os registros de microcefalia, independente do diagnóstico da causa. São Paulo, sob gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), vem desrespeitando ordem federal e informando números maquiados.

De acordo com últimos dados do ministério, são cerca de 3.893 casos da doença. Os números reais de casos no estado de São Paulo podem indicar que a epidemia chegou, de fato, messa unidade da federação. Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde decretou situação de emergência nacional de saúde pública.

A explicação, de acordo com a própria gestão tucana, para a diferença nas estatísticas, aponta para o fato de que São Paulo informa apenas casos envolvendo microcefalia aliada diretamente ao zika vírus, isto é, bebês com perímetro cefálico menor do que 32 centímetros de mulheres que apresentaram manchas vermelhas pelo corpo durante a gestação e com exames negativos para outros vírus que podem levar à microcefalia.

A atitude do estado é rechaçada pela pasta federal da Saúde pois, por muitas vezes, o zika vírus é de difícil detecção. Cerca de 80% dos infectados com o vírus não apresentam nenhum sintoma, nem mesmo as manchas.

Caso São Paulo tivesse respeitado a orientação do ministério, bem como todas as outras unidades da federação, o estado estaria em quarto lugar no ranking de maior número de casos no país, atrás de Pernambuco, Paraíba e Bahia.

A discrepância no cuidado contra a microcefalia é reincidente na gestão de Alckmin. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, em dezembro, pelo menos 18 casos haviam sido registrados na capital, Grande São Paulo e Campinas, sendo que nenhum deles estava presente nos dados do Ministério da Saúde. David Uip, então secretário da pasta no estado, disse que São Paulo informaria apenas casos com presença confirmada do zika. Após polêmica, ele voltou atrás, mas de forma incorreta, como mostram os atuais dados.