Corrida

Governo federal discute vacina contra vírus zika com laboratórios públicos

Instituto Butantan, Evandro Chagas e Bio-Manguinhos devem entrar na corrida por um imunizante contra o vírus associado à microcefalia; vacina da dengue do Butantan não deve sair antes de 2021

Elza Fiúza / Abr

Ministro Marcelo Castro considera o problema “o mais sério de saúde no Brasil atualmente”

São Paulo – Nesta semana, o Ministério da Saúde deu largada à corrida pela descoberta de uma vacina capaz de impedir a infecção pelo vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite os vírus da dengue e da febre chikungunya.

Depois de visitar o Instituto Butantan, na sexta-feira (15), o ministro Marcelo Castro conversou com diretores do Instituto de Tecnologia Bio-Manguinhos, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, e deverá se reunir também com o comando do Instituto Evandro Chagas, no Pará. Assim como a Fiocruz, o orgão é vinculado ao Ministério da Saúde.

Na pauta dos encontros, o estímulo ao desenvolvimento de parcerias, inclusive com a participação de institutos e laboratórios estrangeiros, para o desenvolvimento de uma vacina contra o zika, associado ao aumento de casos de microcefalia no país, especialmente no Nordeste. O ministro considera o problema “o mais sério de saúde no Brasil atualmente”.

De acordo com Castro, a vacina é a grande solução. “Estamos em contato com laboratórios internacionais, com nossos laboratórios no Brasil, para conseguirmos desenvolver, em tempo recorde, uma vacina contra a zika, que será muito mais simples de desenvolver que a da dengue, que tem quatro sorotipos. No caso da zika, é somente um”, disse o ministro.

No final do ano passado, o Ministério da Saúde estabeleceu a relação entre o aumento no número de casos de microcefalia e a infecção por zika, o que levou a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) a emitir um alerta epidemiológico atualizando as recomendações sobre a vigilância do vírus e a apoiar a investigação dos efeitos do vírus sobre os fetos.

Já foram notificados mais de 3.500 casos suspeitos da doença em recém-nascidos em todo o país. Diante da urgência da situação, o diretor do instituto, Jorge Kalil, calcula que o tempo recorde para que o instituto comece a realizar os primeiros testes em macacos é de um ano e que a vacina pode ser registrada em 3 a 5 anos.

Segundo o diretor do Instituto Butantan, o imunologista Jorge Kalil, há a possibilidade de novidades em três anos. Isso, conforme ressaltou, se tudo der certo em todas as etapas da pesquisa. “Em vias normais, com algum atraso que possa haver, nós falamos em cinco anos. Isso em termos bastante rápidos”, disse Kalil.

No entanto, ressaltou que apesar do tempo longo para uma vacina, que normalmente leva em torno de dez anos, os cientistas têm ainda uma série de dúvidas quanto ao comportamento do vírus.

“É muito difícil precisar tempo quando a gente faz ciência, porque se soubéssemos a resposta não precisava fazer experimentação”, disse, completando que há no Butantan pesquisas envolvendo o zika. Estuda-se a possibilidade de inserir no vírus da dengue atenuado um gene para codificar o zika.

Pelas estimativas de Kalil, se for possível conduzir as pesquisas em tempo recorde, os primeiros testes com macacos começariam a ser feitos um ano a partir do início do trabalho e o registro poderia ser feito dali a 5 anos.

Atrasos na vacina da dengue

Outro item da pauta no encontro entre o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, foi a vacina contra a dengue ali pesquisada em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Segundo Kalil, nos próximos dias começa o recrutamento dos participantes da terceira e última fase dos testes clínicos. O desenvolvimento do imunizante, principal item da propaganda da Secretaria de Saúde do governo de Geraldo Alckmin, não deverá ficar pronto até 2017, conforme prometido.

De acordo com o médico farmacologista Antonio Carlos Martins Camargo, ex-diretor científico do Butantan, a fase 3 das pesquisas clínicas demora cinco anos. “Isso se tudo correr bem e não faltar dinheiro. E o próprio NIH afirmou que autorizaria a vacinação somente em 2021”.Outra observação, segundo Camargo, é quanto aos resultados da fase 2 dos testes clínicos, dos quais dependem a terceira fase. “Acredito que a fase 3 não possa começar sem que a fase 2 tenha terminado com bons resultados”.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância à Saúde (Anvisa), julho do ano passado foi o prazo previsto para o Butantan enviar os dados completos a respeito da segurança da vacina, oriundos dos ensaios clínicos fase 2 – o que é essencial para o início da fase seguinte –, além da comprovação da estabilidade e da qualidade da vacina.

Cobrado novamente em outubro, o Butantan prometeu para dezembro. E que os resultados completos seriam apresentados no final deste mês de janeiro. “Pelo visto, a Anvisa achou os resultados satisfatórios, pois já deu o sinal verde para o início da fase 3”.

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