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Tomates são vendidos no ABC paulista com coquetel de 17 agrotóxicos

Análise do Craisa de Santo André mostra que fruta está com três vezes mais substâncias do que a Anvisa permite por lei

Andris Bovo/ABCD Maior

Uso dos agrotóxicos está altamente associado à incidência de doenças como alterações hepáticas e até cancerígenas

ABCD Maior – A contaminação por agrotóxicos nos tomates do ABC paulista está com os níveis três vezes acima do que os permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e são impróprios para consumo. É o que aponta laudo entregue pela Companhia Regional de Abastecimento de Santo André (Craisa) no último dia 3 à Defensoria Pública de Santo André.

O defensor público Marcelo Novaes disse que os números revelados no documento são alarmantes. O tomate, que em 2014 registrou cinco substâncias, agora é comercializado com 17 agrotóxicos. “É um novo patamar de contaminação. Nunca vimos nada parecido. A suspeita é que exista um kit de substâncias extremamente perigosas circulando”, alertou Novaes.

No ABC, mais de 12 mil toneladas de alimentos são distribuídas mensalmente. Para Novaes, o problema pode ser ainda maior. Dos 464 agrotóxicos listados pela Anvisa, apenas 240 são pesquisados. “Observo que o biólogo não pesquisou, por exemplo, o 2,4D e o glifosato, que juntos representam mais da metade do agrotóxico consumido no estado”, destacou Novaes. O glifosato é o ingrediente do herbicida mais utilizado no mundo, assim como um provável agente cancerígeno para humanos.

A demora na análise, o alto custo e a falta de fiscalização, levam esses produtos, como os tomates do ABCD, à mesa dos brasileiros.

Pioneiro

Embora os tomates sejam distribuídos para o ABC via Craisa, é a própria Craisa que está correndo na contramão para evitar danos maiores na mesa dos consumidores. “Infelizmente, os tomates foram consumidos. A amostragem é muito pequena. Mas, é com essas análises, que queremos começar a fiscalizar”, explicou o engenheiro agrônomo da Craisa, Fábio Vezzá de Benedetto.

Em 7 de outubro, a companhia reafirmou seu comprometimento com o fortalecimento da segurança alimentar ao apresentar, durante audiência pública em Santo André, uma portaria que institui o Programa de Rastreamento de Produtores/Fornecedores e Monitoramento de Qualidade de Produtos. O objetivo da ação é fiscalizar a presença de agrotóxicos de uso não autorizado ou acima dos limites fixados pela Anvisa nos produtos hortifrutigranjeiros comercializados no âmbito municipal.

Com a iniciativa, a Craisa remeterá mensalmente amostras de 15 culturas de alimentos vegetais para realização de exames em busca de traços de agrotóxicos. Em um primeiro momento, são examinados os seguintes itens: abacaxi, abobrinha, alface, banana, batata, cebola, cenoura, laranja, maçã, mamão, milho, pepino, pimentão, tomate e uva.

“Não teremos competência para multar e nem é essa a nossa intenção, mas sim, de sermos um colaborador para este processo por meio de um instrumento de monitoramento. Ou seja, ao identificarmos uma irregularidade, nosso papel será o de dar ciência desta situação aos órgãos de controle competentes para que as medidas cabíveis sejam tomadas”, explicou o superintendente da Craisa, Hélio Tomaz Rocha.

Fiscalização

Procurados pela reportagem, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), responsável por fiscalizar os estabelecimentos e produtores do país, e a Vigilância Sanitária de Santo André, que cuida do monitoramento do nível dos agrotóxicos comercializados nos estabelecimentos, não se manifestaram sobre o assunto.

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