Contra o sucateamento

Médicos e professores da USP vão ao MP em defesa do Hospital Universitário

Eles querem impedir o agravamento da situação do hospital no campus do Butantã, que já perdeu 220 funcionários, sendo 18 médicos, e fechou 56 leitos; e proteger o Centrinho, da USP em Bauru

Imagens/USP

Todo ano, o HU presta 282 mil atendimentos de emergência e 13 mil internações

São Paulo – A Associação dos Docentes da USP (Adusp) e o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) estão elaborando uma representação que será protocolada no Ministério Público Estadual (MPE) em São Paulo e em Bauru. Com a medida, as entidades pretendem impedir políticas adotadas pela reitoria da USP, como incentivo a demissões e desvinculações dos hospitais universitários (HU) da própria universidade a pretexto de ajudar a sanar as dificuldades financeiras.

Em agosto passado, em meio à greve dos trabalhadores, que pela primeira vez em 20 anos contava com a adesão dos funcionários do HU, o reitor Marco Antonio Zago anunciou um plano que incluía a demissão de 2.800 funcionários de toda a universidade, incluindo hospitais universitários, bem como a sua desvinculação.

Com a pressão de trabalhadores, inclusive médicos, estudantes, dos movimentos em defesa da saúde pública e de moradores da região da cidade universitária, usuários do HU, Zago recuou e adiou a desvinculação HU. Mas manteve a do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), de Bauru, conhecido como Centrinho.

Desde então, o HU passou a perder servidores que aderiram ao programa de demissões voluntárias. No total, 213, sendo 18 médicos. Por se tratar de um plano que visava a demissão de servidores antigos, com altos salários principalmente ao acúmulo de bonificações e quinquênios, havia a promessa de contratação de pessoal para ocupar as vagas. Como isso não aconteceu, foram fechados oito dos 20 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao todo, foram desativados 56 leitos, além dos prejuízos no atendimento à população, com redução do número de cirurgias.

“A falta de funcionários nos últimos quatro meses levou o HU a fechar o ambulatório de Ortopedia, o Pronto-Socorro de Oftalmologia e leitos no berçário, na Clínica Médica, na Clínica Cirúrgica e na UTI Semi-intensiva”, diz Givanildo Oliveira dos Santos, diretor do Sintusp e integrante do Conselho Gestor de Saúde do Butantã.

A falta de funcionários tem prejudicado também o CSEB, responsável pela assistência primaria à saúde de 45 mil pessoas residentes em sua área de abrangência. Com isso, já não há condições de atender plenamente a todos os seus pacientes.

Como consequência de tudo isso, vagas para internações no HU, inclusive em casos graves que dependem de UTI, estão reduzidas; cirurgias estão sendo desmarcadas e os doentes não têm para onde e para quem recorrer. Pacientes que deveriam ser atendidos no CSEB, agora serão obrigados a esperar ainda mais.

Se não for feito algo, imediatamente, em defesa do HU e do CSEB, estes podem caminhar para ter suas portas fechadas. Se isso acontecer, os moradores da região ficaram em situação de calamidade, pois o Pronto-Socorro Bandeirantes e o da Lapa estão prestes a fechar para reformas. Além disso, as 13 Unidades Básicas de Saúde existentes na região são insuficientes, pois para atender a uma população com mais de 600 mil pessoas seriam necessárias 25 UBS.

Criado para formar médicos na graduação e na residência, o HU absorveu o atendimento relativo ao ensino das áreas básicas do curso de Medicina da USP, antes mantido pelo Hospital das Clínicas, que ficou com a especialização médica. De hospital-escola, foi transformado em mais um hospital sobrecarregado.

Além de toda a comunidade universitária, atende à população do subdistrito do Butantã, estimada em 500 mil habitantes. Hospital de referência da região oeste da capital paulista, só em 2013 prestou 282 mil atendimentos de emergência e 13 mil internações. A cada mês foram feitas ali 12 mil consultas ambulatoriais, 400 cirurgias, 3.543 partos, 140 mil exames de imagem e 965 mil exames laboratoriais. Para tudo isso, recebe 8% da verba destinada à USP, embora em 2013 tenha recebido 7,9%.

“A situação preocupa porque, quando se estrangula uma unidade da administração pública, como é o caso do hospital universitário, o prejuízo é imediato à população. Porém, sua correção é ao longo prazo”, afirma o professor e presidente da Associação dos Docentes da USP, Ciro Teixeira Correia.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), o Sindicato dos Médicos, estudantes e movimentos sociais estão organizando manifestação para o próximo dia 7, Dia Mundial da Saúde. A concentração será às 10h, na praça em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental Brasil Japão, na Doutor Paulo Carvalho Ferreira, altura do número 94, no Rio Pequeno, distrito do Butantã.

Além da contratação imediata de funcionários para ocupar vagas no hospital e no CSEB, a ele subordinado, os manifestantes reivindicam a permanência da vinculação dos hospitais à universidade, o pleno funcionamento do CSEB e saída do reitor.

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