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OMS vai discutir limites éticos de uso de droga experimental contra ebola

Utilização da substância para tentar curar vítimas do atual surto nos EUA abriu a discussão, pois, até agora, nenhum remédio havia sido testado em humanos

Agência EFE

OMS declarou emergência sanitária internacional. Ebola já matou quase mil pessoas em Guiné, Serra Leoa e Libéria

São Paulo – Especialistas na área de ética médica participam hoje (11) de uma reunião por videoconferência em Genebra, sede da Organização Mundial da Saúde (OMS) para definir os limites éticos do uso de tratamentos experimentais de ebola, doença que causou um surto na África Ocidental.

O ebola, descoberto em 1976, não tem tratamento, pois não existem remédios nem vacinas contra o vírus, embora alguns laboratórios trabalhem no desenvolvimento de algumas opções terapêuticas. A utilização destas novas drogas para tentar curar vítimas do atual surto provocou polêmica na comunidade científica, porque, até agora, nenhum remédio tinha sido testado em humanos, apenas em animais em provas pré-clínicas.

A decisão da OMS de convocar a reunião foi feita para debater se é possível usar fármacos que não se sabe se são seguros e se devem ser usados em doentes com ebola diante da gravidade do surto da doença. Uma pergunta ética adicional está relacionada ao acesso ao remédio caso seu uso seja autorizado, pois os medicamentos existem em quantidades limitadas.

A questão ganhou destaque após ser divulgado que dois funcionários médicos de uma ONG americana que contraíram o ebola e foram repatriados aos Estados Unidos receberam o fármaco ZMapp, da mesma forma que um religioso na Espanha, que também contraiu o letal vírus na Libéria.

“Este surto nos coloca uma situação pouco habitual. Estamos perante uma doença com uma alta taxa de mortalidade e para a qual não dispomos de tratamento nem vacinas de eficácia e segurança demonstrada”, disse a subdiretora geral da OMS, Marie-Paule Kieny. “Temos que pedir aos especialistas em ética médica orientações sobre qual seria a atitude responsável”, afirmou.

A reunião será realizada por teleconferência e contará com a participação de analistas e representantes dos países afetados. O responsável da área de vacinas da OMS afirmou neste fim de semana que uma vacina para prevenir o ebola poderia estar pronta em 2015.

A OMS já declarou emergência sanitária internacional por causa do surto, iniciado em março. O ebola já causou a morte de quase mil pessoas em Guiné, Serra Leoa e Libéria. A situação na Nigéria, onde há dois mortos, também está sendo seguida de perto para se detectar o mais rápido possível novos casos de doentes.

‘Surreal’

Eric Silverman, o homem que permaneceu dois dias isolado em Nova York até ser confirmado que não tinha contraído o vírus do ebola, disse no domingo que o episódio foi uma experiência “surrealistas”. Em entrevista ao jornal Daily News, Silverman afirmou que nem seus amigos acreditaram quando ele revelou ser o “paciente misterioso” que estava internado no hospital Monte Sinai suspeito de estar com ebola.

Enquanto não se descartou a doença, o hospital não divulgou a identidade do jovem de 27 anos, que retornou em 17 de julho a Nova York após uma estadia em Serra Leoa, um dos países africanos onde a doença se espalhou.

Duas semanas após voltar à cidade -ainda dentro do possível período de incubação do vírus-, Silverman começou a se sentir mal e foi ao médico, que rapidamente o transferiu para o hospital Monte Sinai. O jovem foi recebido por funcionários coberto com máscaras e isolado do restante dos pacientes.

“Só quando acordei na segunda-feira e não me deixavam sair do quarto soube que algo estava mal”, explicou Silverman, que então se deu conta de que os médicos tinham que o manter em quarentena porque não podiam descartar o vírus do ebola.

O nervosismo do paciente aumentou quando, antes de receber os resultados dos testes de ebola, os médicos disseram que ele não estava com malária, enfermidade que já tinha sofrido e que pensava estar tendo uma recaída. “Isso me deu um pouco de medo”, admitiu o morador do Brooklyn, que sabia ter estado em uma zona de Serra Leoa afetada pelo ebola em sua última semana no país.

Na quarta-feira, finalmente, os especialistas confirmaram que Silverman não tinha o vírus. “Quando o médico (Charles) Powell e o presidente do hospital, David Reich, entraram em meu quarto sem vestir trajes especiais, soube que estava limpo”, lembrou.

Silverman, que segundo os médicos provavelmente sofreu uma infecção bacteriana, recupera-se sem problemas e na próxima semana voltará ao hospital para uma revisão.

Voos suspensos

A Costa do Marfim suspendeu nesta segunda-feira todos os voos com destino e procedentes de Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria, os países afetados pelo surto de ebola. “Proibimos a todas as companhias aéreas trazer para a Costa do Marfim passageiros procedentes dos países afetados pelo ebola até novo aviso”, advertiu o governo em comunicado divulgado pela imprensa local.

O Executivo marfinense tomou esta decisão depois que na sexta-feira passada a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia de ebola que castiga a África Ocidental como uma emergência de saúde pública de alcance internacional.

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