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Agentes da prefeitura de SP fazem mutirão contra a dengue neste sábado e domingo

Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo vai coordenar ação nos bairros em que há maior infestação pelo mosquito

Maristela Leão/Flickr

Água parada, inclusive em plantas, é o local ideal para as fêmeas do Aedes depositar seus ovos

São Paulo – Agentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo vão percorrer neste sábado (12) e domingo (13) os bairros localizados na divisa com o município de Osasco, na zona oeste, e de Guarulhos, na zona norte, além dos distritos do Carrão, na zona leste, Santo Amaro, na zona sul, e Jaguara e Vila Leopoldina, na região oeste. Essas localidades concentram o maior número de notificações de casos confirmados de dengue.

Durante a visita, os agentes vão verificar possíveis criadouros do mosquito, entregar toucas para caixas d´água e orientar a população sobre as medidas para evitar a proliferação do Aedes, mosquito transmissor do vírus causador da doença.

“A ação será feita no final de semana, quando muitos moradores estão em casa para receber a visita e as orientações”, explica a médica Vivian Ailt Cardoso, da Coordenação de Vigilância à Saúde da SMS. “É muito importante que a população permita a entrada do agente, que estará uniformizado, com colete e com crachá. Em caso de dúvida, poderá ligar para o número 156 e confirmar o nome do servidor.”

O número de casos de dengue confirmados aumentou no município. Entre os dias 29 de dezembro passado até 5 de abril, foram registrados 1.745 – 42% maior em comparação com o mesmo período de 2013.

Apesar do aumento, o número de casos corresponde a uma taxa de incidência de 15,5 registros para cada 100 mil habitantes, considerada baixa conforme o Ministério da Saúde. Pelo parâmetro utilizado, é de baixa incidência quando há até 100 casos confirmados em uma população de 100 mil habitantes. Já a média incidência equivale de 100 a 300 casos por 100 mil habitantes. Acima de 300 casos por 100 mil habitantes a incidência é considerada alta. Durante todo o ano passado foram 2.617 casos, o que corresponde ao índice 23,3.

De acordo com a SMS, a concentração de casos é maior em distritos da zona oeste. No Jaguaré foram registrados 324 casos, com índice é de 649,8, considerado alto. Na Lapa, 158 casos e índice de 240,3, considerado médio. Em Rio Pequeno, 147 casos e o índice é 124,1, também considerado médio.

Outros dois distritos, próximos à divisa com Guarulhos, também tiveram aumento expressivo de casos registrados. Em Tremembé, o número de notificações aumentou de 78 para 123. Na Vila Jacuí, zona leste, passou de 43 a 80. No entanto, a taxa é considerada baixa em ambos os distritos. Em comparação com a média da cidade (15,5), a taxa é considerada alta nos distritos do Carrão, (55,2), Santo Amaro (40,5), Jaguara (40,2) e Vila Leopoldina (38,0).

Dinâmica do Aedes

A entomologista Denise Valle, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que os surtos de dengue variam a cada ano, refletindo a própria dinâmica do mosquito, que se prolifera mais ou menos conforme as condições que encontra, como oferta de água limpa e parada.

“O combate ao mosquito transmissor ainda é a única forma de prevenir a doença. Os gestores da saúde têm sua responsabilidade, mas a prevenção é responsabilidade de todos”, disse.

Embora os pratinhos dos vasos sejam os criadouros mais lembrados, existem muitos outros que merecem a mesma atenção, como as calhas, lajes das casas, caixas d’água destampadas, bandejas de ar-condicionado, bebedouro de animais domésticos e até mesmo nas plantas.

Segundo pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), as fêmeas do mosquito Aedes Aegypti procuram locais escuros e tranquilos para depositar seus ovos, dando preferência àqueles que tenham pelo menos uma lâmina de água. É no meio aquático que eles eclodem, dando lugar a larvas que se desenvolverão tornando-se os mosquitos que vão transmitir a doença ao picar uma pessoa contaminada. Longe da presença da água, os ovos do mosquito podem permanecer vivos, sem eclodir, por até um ano, até que surjam as condições necessárias.

“A estratégia de sobrevivência do Aedes é muito desenvolvida. Como ainda não existe vacina contra a dengue, e a única forma de prevenção é o combate ao mosquito transmissor do vírus, o melhor é conhecer mais sobre ele e seus hábitos. É preciso ‘pensar’ como a fêmea, que busca segurança para procriar e vasculhar todos os lugares”, diz a entomologista e pesquisadora IOC/Fiocruz, Denise Valle.

O ciclo de desenvolvimento do ovo eclodido à fase adulta é de sete  a dez dias. Por isso, se houver vistoria semanal em todos os cantos da casa onde a fêmea pode depositar seus ovos, deixarão de nascer novos mosquitos, com redução na transmissão da doença.

Denise idealizou e coordenou um projeto de aulas já disponíveis na internet, o Aedes aegypti – Introdução aos aspectos científicos do vetor. Na série de vídeos, os pesquisadores do IOC falam, em linguagem simples, sobre o mosquito, a doença e seus impactos. “Quando se leva em conta que 80% dos criadouros dos mosquitos estão dentro das casas das pessoas, fica fácil perceber que é praticamente impossível creditar ao poder público a responsabilidade exclusiva pelo controle da doença”, destaca.

O Aedes é originário do Egito e desde o século 16 tem se espalhado pelo mundo. Os primeiros relatos de dengue no Brasil datam do final do século 19, em Curitiba, e do início do século 20, em Niterói. O que poucas pessoas sabem é que apenas a fêmea se alimenta de sangue, podendo sugar o correspondente a duas vezes o seu peso. De hábitos diurnos, porém extremamente oportunista, o mosquito não perde a oportunidade para se alimentar e pode picar suas vítimas inclusive à noite, confundindo-se com o Culex. Esse pernilongo comum, mais claro e sem as marcas brancas do Aedes, é o que atrapalha a noite de sono de qualquer um com suas picadas e zunidos agudos.

Atualmente há pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e de barreiras biológicas para a transmissão da doença. Na série de vídeos, o pesquisador da Fiocruz Minas, Luciano Moreira, fala sobre o projeto que utiliza a contaminação do mosquito pela bactéria Wolbachia para reduzir seu tempo de vida. E o pesquisador da Universidade Federal de Sergipe Sócrates Cavalcanti apresenta experiências que buscam novos agentes para matar as larvas do mosquito.

 

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