Resposta

Associação ataca Padilha por ‘medida populista’ de trazer médicos estrangeiros

Em resposta às declarações dadas pelo ministro da Saúde em entrevista à Rádio Brasil Atual, diretor de entidade de classe afirma que problema é aplicação de recursos

Valter Campanato/ABr

Conselho Regional de Medicina do DF e Associação Brasiliense de Médicos Residentes protestam contra a importação de médicos, em Brasília, na sexta (28)

São Paulo – O diretor da Associação Médica Brasileira (AMB), Murilo Rezende de Melo, afirmou que a proposta do governo federal de importar médicos estrangeiros para atender à população das periferias de grandes centros de cidades do interior é populista e não traz soluções a problemas estruturais para a saúde pública do Brasil, como falta de infraestrutura nas unidades de saúde. “O ministro quer aprovar uma medida populista e rápida, atingindo de forma perigosa não só a classe médica mas como toda a população”, disse à Rádio Brasil Atual.

“O ministro está fazendo um monte de barulho, querendo enganar a população mostrando que faz alguma coisa pela saúde, mas na verdade não está fazendo nada. Cada paciente recebido por um médico recebe pedidos de exame, em média, cinco por consulta. Só que as redes de assistência de exames como raio-X e tomografia está esgotada em muitos dos centros. E o ministro não explica o que vai ser feito, não adianta levar médico e não ter nada em cima.”

Na sexta-feira (28), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou em entrevista exclusiva à Rádio Brasil Atual que os médicos deveriam deixar o corporativismo de lado e pensar na população brasileira que não tem acesso à médicos, e lamentou que as entidades médicas passassem para ataques de caráter pessoal.

O diretor da AMB rebateu as criticas do ministro afirmando que Padilha não tem respondido à questões colocadas pelas entidades. “Não estamos atacando a pessoa do ministro, mas as questões colocadas não estão sendo respondidas.” A AMB entrou com ação de responsabilidade por ato de improbidade administrativa contra Padilha em meados de junho, “por deixar de utilizar R$ 17 bilhões do orçamento do ministério da Saúde entre os anos de 2011 e 2012”, segundo a entidade.

O ministro garantiu avaliação e fiscalização rigorosas dos médicos estrangeiros, mas Rezende afirma que a validação dos diplomas de médicos estrangeiros é prevista por lei, e anualmente são realizados concursos para a admissão de médicos de outros países. Segundo ele, a prova administrada pelo governo tem modelo adequado e índice de reprovação de 90%.

“Seja um médico que estudou em Harvard, ou na pior universidade do mundo, eles terão a mesma prova. O que as entidades médicas querem é que continue sendo uma única prova, que verifique a capacitação médica, é diferente do que o ministro coloca, de que ele e seus funcionários vão definir que faculdades garantem qualidade, o que é um absurdo.”

Padilha afirmou que o ministério quer discutir a proposta de carreira para médicos, também nos âmbitos estaduais e municipais. Rezende afirma que a proposta de carreira médica de Estado defendida pelas entidades é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 454, de 2009, que é distinta daquela defendida pelo ministro. A proposta, de autoria do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), estabelece diretrizes para a organização da carreira única de Médico de Estado.

“Somos a favor da PEC 454, em que o médico começa numa cidadezinha do interior e venha progredindo até o centro onde gostaria de ficar. O médico tem de ir para o interior, mas não dá para fazer o que o governo tem feito, que é mandar o profissional para as cidades com contratos que não são seguros, em que o prefeito muitas vezes é picareta, não paga o médico já no segundo mês, manda embora, e aí o profissional fica vulnerável”, comentou.

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabañas.