Exame do Conselho Regional de Medicina de São Paulo reprova quase metade dos participantes

Teste mostrou que 66% dos estudantes do último ano avaliados erraram questões sobre diagnóstico ou tratamento de problemas como infecção de garganta, sífilis e meningite

São Paulo – Quase metade (46%) dos estudantes do último ano de Medicina avaliados pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) foi reprovada. “O índice de reprovação é semelhante ao dos anos anteriores, perto de 50%, o que confirma sérias deficiências na formação de médicos no Estado de São Paulo”, afirmou Reinaldo Ayer de Oliveira, professor de Bioética na Faculdade de Medicina da USP e conselheiro efetivo do Cremesp.

Segundo ele, o dado preocupa pelo fato de a prova conter  questões básicas, que devem ser conhecidas pelo médico para que possa atender adequadamente o paciente. “O agravante é que a situação pode ser ainda pior, já que, devido ao caráter opcional do exame, em tese são os alunos mais preparados que mostram interesse em ser avaliado.”

Muitos dos 418 estudantes avaliados no teste deste ano erraram testes que exigem conhecimento sobre o diagnóstico ou tratamento correto de problemas como infecção de garganta, meningite, sífilis e atendimento em saúde mental, entre outros.

Se a sífilis não for tratada adequadamente, a doença causa má formação fetal nos três primeiros meses de gestação. “E os alunos estão errando algo tão básico”, disse Renato Azevedo Junior, presidente do Cremesp. Na prova de 2005, alunos chegaram a errar questão sobre o preenchimento correto de atestado de óbito.

As provas da sétima edição do exame foram realizadas no começo de outubro, em 14 municípios, e avaliou o conhecimento em bioética, ciências básicas, cirurgia geral, clínica médica, ginecologia e obstetrícia, ortopedia, pediatria, saúde mental e saúde pública.

Desde que foi criada, em 2005, a cada ano a prova tem queda na participação. Passou de 998, em 2005, para os atuais 418. Apesar da redução, o índice de reprovação continua em torno de 50%. Em 2008, os estudantes atingiram o maior índice de reprovação (61%).

Em 2011, 2500 alunos estão se formando médicos em 28 faculdades, entre públicas e privadas. 16% deles participaram do exame do Cremesp.

Como nos outros anos, neste se manteve a resistência ao exame por parte de dirigentes, professores e alunos de algumas escolas. A Faculdade de Medicina da USP, considerada a melhor do Brasil, não teve nenhum aluno participante. Segundo Ayer de Oliveira, que é professor na instituição, é realizada ali uma avaliação interna.

Entre os alunos aprovados na avaliação, 76,6% são das faculdades públicas, e 42,5% das particulares. Para o conselheiro, entre as causas do ensino ruim está a abertura de faculdades sem nenhuma qualidade,  sem hospital-escola e até mesmo sem professores.

Segundo ele, nos últimos oito anos foram abertas mais de 70 escolas médicas em todo o país. E que há no Ministério da Educação (MEC) muitos outros pedidos de autorização para funcionamento de novos cursos.

Ele rebateu o argumento do setor, de que faltam médicos no Brasil. “O problema é de má distribuição”, aponta. “Há na capital paulista um médico por habitante, índice que não existe em nenhum outro lugar do mundo. E faltam profissionais em muitas outras cidades brasileiras”.

O Cremesp defende que o exame se torne obrigatório para todos os estudantes do último ano de Medicina, o que depende de aprovação de leis a respeito em tramitação. Segundo o presidente da entidade, os resultados serão discutidos com as escolas médicas participantes. Uma proposta é a unificação da avaliação com aquelas internas já realizadas nas faculdades.

Em sete anos, foram avaliados 4.821 formandos , dos quais 2.250 (46,6%) foram reprovados. Entre 2007 e 2011, participaram da prova 3.135, com 1.832 reprovações (58,4%). 

Procurado, o MEC não se manifestou até o fechamento da reportagem.

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