Quase 80% das cidades paulistas não têm leito do SUS para dependente químico

Apenas 5% dos municípios recebem recursos estaduais para tratamento do crack e outras drogas, diz estudo realizado por frente parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo

São Paulo – Estudo feito pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack da Assembleia Legislativa de São Paulo mostra que 79% dos municípios paulistas não têm leitos para dependentes químicos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). As cidades mais afetadas são as que têm população inferior a 5 mil habitantes. Dessas localidades, 91% não têm vaga para tratamento na rede pública. A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (20).

“Nós não temos um leito por município, esse dado nos preocupa. Daí a importância de convencermos o governo do estado a programar um valor no orçamento de 2012 para repasse aos hospitais públicos”, apontou o deputado Donisete Braga (PT), coordenador da frente.

Para chegar a esse levantamento, os deputados estaduais enviaram questionários para as 645 prefeituras. A resposta partiu de 325 municípios, que concentram 76% da população do estado. O crack está presente em 31% das cidades e o álcool, em 49%.

Em cidades com população média entre 50 mil e 100 mil habitantes o crack aparece empatado com o álcool, com 38% de presença. Desses municípios, 99% não recebem recurso estadual e 94% não têm acesso a recurso federal. Ainda assim, 71% ajudam financeiramente as entidades terapêuticas. De todos os municípios pesquisados, somente 5% recebe ajuda do governo estadual, enquanto 12% recebe do governo federal e 37% repassa verbas para a instituições de tratamento.

A faixa etária mais preocupante vai dos 16 aos 35 anos, sendo 80,73% dos dependentes químicos. Nas cidade com população entre 5 mil e 50 mil habitantes, 27% dos usuários de drogas têm idades entre 16 e 20 anos e 28% têm de 21 a 25 anos.

Para o deputado Major Olímpio (PDT), além do problema de saúde pública da dependência química, é importante também fiscalizar os orgãos de segurança públicas que, segundo ele, têm sido coniventes com os pequenos traficantes nas chamadas cracolândias.

Mais da metade dos municípios, 54%, têm a taxa de reincidência superior a 50%. E nos municípios entre 5 mil e 50 mil habitantes, a taxa sobe para 61%.

Usinas de cana-de-açúcar

O deputado Orlando Bolçone (PSB) relatou o problema do uso do crack entre os trabalhadores das plantações dos canaviais e usinas nas regiões de São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Vale do Ribeira.

“Eles (trabalhadores) recebem por produção e, com o uso da droga, conseguem trabalhar 14, 15 horas seguidas. Depois de três anos ou morrem ou são dispensados pelos usineiros, que fingem que nada acontece”, denunciou Bolçone.

Para Donisete Braga, os governos municipais, estadual e federal precisam trabalhar conjuntamente para a criação de políticas de prevenção. O deputado dá o exemplo do Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras Drogas (Cratod), da região da Luz, como uma boa forma de monitoramento e porta de entrada para os dependentes químicos. Braga pretende propor a criação de mais desses centros.

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