Programas garantem medicamentos mais em conta

Muita gente precisa de remédios cujo valor é maior que o próprio salário. Conheça alguns programas e projetos que procuram facilitar o acessso

Márcia recorreu ao Banco de Remédios, uma ONG de Porto Alegre, e conseguiu os caros comprimidos que precisa para tratar uma doença que ataca os rins (Foto: Andréia Graiz)

São Paulo – Para retardar o avanço e as complicações do Alzheimer, a bancária aposentada Cecy Damarindo, de São Paulo, é tratada com hidrobrometo de galantamina. Uma caixa com 28 cápsulas chega a custar R$ 468,39, praticamente o valor de sua aposentadoria. Logo que o médico diagnosticou a doença, sua filha, a também bancária Claudia Damarindo, foi orientada a procurar o programa de distribuição de medicamentos de alto custo financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o Ministério da Saúde, o programa beneficia pacientes tratados tanto na rede pública como particular e convênios médicos. Como cada estado tem regras próprias para administrar o benefício, cabe ao médico informar sobre o serviço e encaminhar o paciente com todos os formulários preenchidos. No caso de dona Cecy, o remédio logo começou a ser distribuído.

Já a auxiliar administrativa Márcia Greff Demétrio, de Porto Alegre, não se enquadrou às exigências burocráticas para ser beneficiada. Pela lista do SUS, o micofenato mofetil, medicamento escolhido pelo seu médico por ser mais eficaz e ter menos efeitos colaterais, deve ser distribuído apenas para transplantados renais – por pouco ela não foi para o transplante. Há cerca de dois anos, ela foi diagnosticada com lúpus, uma doença autoimune que, entre outros órgãos, ataca os rins. Seu médico então a orientou a procurar uma ONG estabelecida na cidade e lá consegue obter o medicamento que necessita.

Márcia está entre os beneficiados pelo Banco de Remédios, que consiste no acondicionamento e distribuição gratuita e organizada de medicamentos de uso contínuo às pessoas que não têm possibilidade de comprá-los. “Arrecadamos medicamentos que deixaram de ser usados porque a embalagem tem mais comprimidos que o necessário para o tratamento ou o médico troca o remédio do paciente. É uma forma de ajudar a quem precisa ao mesmo tempo em que diminuímos o desperdício”, explica Damaso Roberto Silvera, presidente do Banco de Remédios. Atualmente são beneficiadas cerca de mil pessoas, mas o objetivo é multiplicar esse número por 10 e firmar parcerias com diversos órgãos públicos em vários estados.

Silvera explica que o custo para tratar cada pessoa com insuficiência crônica oscila entre R$ 4 mil a R$ 5 mil. Levando-se em conta que 10% da população brasileira sofre do problema, dá para se ter uma noção do quanto é gasto só com a compra de remédios. Por outro lado, estima-se um prejuízo aos cofres públicos da ordem de R$ 3 bilhões sõ com os medicamentos de alto custo que foram parar na lata do lixo. O banco, criado há dois anos, é uma iniciativa da Associação de Amparo Social e Científico SOS Rim, que orienta doentes renais crônicos quanto à aposentadoria, auxílio-doença, isenções fiscais e obtenção de medicamentos por meio judicial ou mesmo para encaminhamento de documentação para acesso aos medicamentos especiais junto aos órgãos públicos municipais, estaduais e federais.

Outra alternativa criada para minimizar o impacto do preço dos medicamentos ao bolso do consumidor vem de entidades como a Associação de Defesa dos Consumidores e Usuários de Medicamentos do Rio de Janeiro (Adcum-RJ), que permitem a seus associados a aquisição a preço de custo, diretamente das distribuidoras de medicamentos. Para se associar é cobrada uma taxa anual de R$ 35. Após o preenchimento da ficha de cadastro de associado já é possível comprar os seus medicamentos necessários.

É possível encontrar medicamentos essenciais a baixo custo também por meio do Programa Farmácia Popular do Brasil. Criado em 2004, conta com unidades próprias e farmácias comerciais conveniadas. Nas unidades próprias é possível comprar 108 medicamentos e preservativos masculinos com redução de até 90% do valor de venda na rede comercial. A única exigência para a aquisição nas farmácias populares é a apresentação de receita médica ou odontológica. Já nas farmácias conveniadas (sistema de copagamento), o governo federal paga a maior parte do valor dos medicamentos.

Para usufruir desse benefício, basta procurar uma drogaria com a marca “Aqui tem Farmácia Popular” e apresentar a receita médica acompanhada de CPF e de documento com foto. Esse sistema de copagamento inclui medicamentos para hipertensão, diabetes, colesterol alto e anticoncepcionais. O artista plástico Luiz Lombardi, 59 anos, da capital paulista, recorre a esses endereços sempre que precisa. Com um problema dermatológico, Luiz precisa tomar uma cápsula de Fluconazol a cada sete dias, durante 20 semanas. Nas farmácias, cada uma custa entre R$ 8 e R$ 45. “Aqui pago R$ 0,95”, diz. 

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