Estudos alertam que a cada hora 23 fumantes morrem no Brasil

Em 2010, pelo menos seis milhões de pessoas deverão morrer em todo o mundo por causa do cigarro. A maioria delas, 72%, são de países pobres ou em desenvolvimento.

Exposição em Brasília (DF) em 2008 mostra os componentes tóxicos do cigarro (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

As estimativas não são nada animadoras. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, a cada hora, 23 fumantes morrem no Brasil. Ao todo, são 200 mil óbitos todo ano. O cigarro é responsável por 90% dos casos de câncer no pulmão, o mais letal e também uma das principais causas de morte no país. Do restante das mortes, um terço é composto de fumantes passivos.

A projeção sobre a incidência e mortalidade, publicadas a cada dois anos pelo Inca, indica que, em 2009, 45 mil pessoas deverão desenvolver a doença, sendo 18 mil homens e 27 mil mulheres. Além disso, o tabagismo está por trás de grande parte das mortes por doença coronariana, infarto agudo do miocárdio, bronquite, enfisema e outros tipos de câncer, como de boca, laringe, faringe, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero.

O cardiologista Edson Stefanini, professor da Universidade Federal de São Paulo e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, explica que tudo isso acontece por causa das mais de 4 mil substâncias tóxicas presentes no cigarro, das quais 60 são comprovadamente cancerígenas.

Benefícios

Ao parar de fumar, os benefícios logo aparecem.

  • Nos primeiros vinte minutos a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
  • Após duas horas o sangue está livre da nicotina;
  • Oito horas depois o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
  • Depois de dois dias o olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor;
  • Em três semanas a respiração fica mais fácil e a circulação do sangue melhora;
  • Passados cinco a dez anos o risco de sofrer infarto será igual ao de quem nunca fumou.

“Ao cair na corrente sanguínea, elas irritam veias e artérias, endurecendo suas paredes e facilitando a formação de placas”, explica Stefanini. “E se o fumante tiver pressão alta e colesterol elevado, o risco de infarto, derrame, aneurismas e outros problemas cardiovasculares é muito maior”, alerta.

Segundo o médico, como o tabaco prejudica o sistema circulatório como um todo, funções ligadas a ele também são afetadas. É por isso que a impotência sexual no homem, complicações na gravidez e trombose vascular estão associados ao tabagismo. E, se fosse pouco, os componentes tóxicos ainda são nocivos aos pulmões, trazendo uma série de problemas respiratórios, como enfisema, que acaba com a qualidade de vida da pessoa antes de matá-la; ao estômago e também aos tecidos da pele, que perde o brilho e a elasticidade.

Segundo estatísticas do Inca, comparados a quem não fuma, os fumantes têm riscos 10 vezes maior de desenvolver câncer de pulmão; cinco de sofrer infarto, bronquite crônica e enfisema pulmonar e duas de ter um acidente vascular cerebral, mais conhecido como derrame. Por isso, largar o cigarro é a recomendação básica de médicos de todas as especialidades.

Parar de fumar

O problema é que não é fácil deixar de fumar. O fumante fica dependente da nicotina, droga poderosa que, como a cocaína, atua no sistema nervoso central. Mas com uma diferença: chega ao cérebro muito mais rapidamente, em apenas sete segundos.

É normal, portanto, que, ao parar de fumar, os primeiros dias sejam os mais difíceis. Porém, as dificuldades serão menores a cada dia. “É por isso que o tabagismo é considerado doença e deve ser tratado como tal”, sustenta Tânia Ogawa, cardiologista do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), de São Paulo.

Segundo ela, existem atualmente diversos recursos eficientes para ajudar quem decide abandonar o fumo. Entre eles estão as chamadas terapias de reposição, que além de reduzir a vontade de fumar, aliviam sintomas da abstinência, como irritabilidade, depressão, frustração, mau humor, ansiedade e dificuldades de concentração. São gomas de mascar e adesivos. Ambos contêm nicotina, mas não os demais componentes nocivos.

Há ainda medicamentos, como o bupropiona, antidepressivo aplicado no tratamento do vício. A droga libera, segundo estudos, substâncias no cérebro que fazem efeito semelhante ao do tabaco, embora tenha contraindicações em alguns casos. Mais recentemente, chegou ao mercado a vareniclina, que reduz a vontade de fumar.

O importante, segundo a cardiologista do Incor, é que as pessoas não desistam de apagar o cigarro de vez de suas vidas porque tiveram algumas recaídas. “Isso é normal e vai chegar uma hora que o fumante vai conseguir se livrar definitivamente”, garante.

Mortes no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, estudos mostram que o tabagismo é responsável por:

  • 200 mil mortes por ano no Brasil (23 pessoas por hora);
  • 25% das mortes causadas por doença coronariana – angina e infarto do miocárdio;
  • 45% das mortes causadas por doença coronariana na faixa etária abaixo dos 60 anos;
  • 45% das mortes por infarto agudo do miocárdio na faixa etária abaixo de 65 anos;
  • 85% das mortes causadas por bronquite e enfisema;
  • 90% dos casos de câncer no pulmão (entre os 10% restantes, 1/3 é de fumantes passivos);
  • 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer (de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo de útero);
  • 25% das doenças vasculares (entre elas, derrame cerebral).

Segundo ela, pessoas que fumam não devem insistir no vício também por causa do medo de engordar. Os quilos a mais – em média cinco – podem ser evitados e até eliminados com a prática de exercícios físicos e outras atividades prazerosas, como dançar, ou participar de grupos que se dedicam a algum tipo de arte.

Os malefícios do cigarro não se limitam aos danos ao organismo. A terceira edição do Atlas do Tabagismo, lançado neste ano pela Sociedade Norte-Americana contra o Câncer, mostra como o fumo está devastando a saúde e as economias globais. Segundo o documento, o rombo estimado do tabagismo de US$ 500 bilhões na economia mundial ultrapassa os gastos anuais em saúde em todos os países de renda baixa e média. Os custos resultam de perda de produtividade, recursos mal utilizados, tributação ineficaz e mortes prematuras.

Como 25% dos fumantes morrem e muitos adoecem durante seus anos mais produtivos, a perda de renda devasta famílias e comunidades. Produto de consumo mais contrabandeado do mundo, leva a perdas de arrecadação para os governos. Em 2006, cerca de 600 bilhões de cigarros contrabandeados chegaram ao mercado.

O Atlas ainda cristaliza a tendência de a indústria do tabaco passou seus esforços de marketing e vendas para países que têm políticas de saúde pública menos eficazes e menos recursos. Desde 1960, a produção global de tabaco aumentou 300% em países pobres, enquanto caiu 50% em países ricos.

Além de a produção de fumo ocupar terras que poderiam ser usadas para a produção de alimentos, há ainda o gasto imposto especialmente a famílias pobres. Para se ter uma ideia, segundo o documento, apenas em Bangladesh, se uma família média comprasse alimentos com o dinheiro normalmente gasto em cigarros, mais de dez milhões de pessoas não sofreriam mais de desnutrição e 350 crianças menores de cinco anos poderiam ser salvas todos os dias.

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