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Presidente eleito diz que o Paraguai tem de reparar seus erros

Horacio Cartes quer aprender com o Brasil a combater a pobreza, defenda volta país ao Mercosul e quer ficar de bem com a Venezuela

Pablo Porciuncula/AFP

Presidente eleito pede apoio de Dilma Rousseff e quer conhecer as experiências do pais com programas sociais

Um dia depois de ter sido declarado presidente eleito do Paraguai, no pleito de 21 de abril, o empresário Horacio Cartes, do Partido Colorado, disse em entrevista que gostaria de também travar em seu país uma luta contra a pobreza, assim como faz o Brasil. Afirmou já ter expressado à presidenta Dilma Rousseff o pedido de apoio, quando ela telefonou para cumprimentar o vencedor. A posse será em 15 de agosto. A vitória com 46% dos votos devolve o poder ao partido que, depois de governar o país por 61 anos, havia sido derrotado em 2008 pela coligação de centro-esquerda que elegeu Fernando Lugo – apoiado pelo Partido Liberal, Lugo foi destituído em junho do ano passado, depois de um golpe institucional liderado pelos próprios liberais.

No dia da votação, o clima era de silêncio e apatia. Cerca de 32% dos 3,5 milhões de paraguaios aptos a votar se abstiveram e outros 6% votaram em branco ou nulo. Ou seja, quase quatro em cada dez eleitores não votaram em nenhum dos candidatos. Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico, ficou com 37%. Os dois candidatos da esquerda perderam para os brancos e nulos: Mario Ferreiro, da Frente Avanza País, fez 5,85% dos votos e Aníbal Carrillo, da Frente Guasu, 3,32%. O presidente deposto, Fernando Lugo, foi eleito senador pela Frente Guasu.

O presidente eleito ressaltou a necessidade de investir em infraestrutura e na criação de empregos. Afirmou que o Paraguai produz alimentos para cerca de 90 milhões de pessoas, mas perto de 20% da população não tem acesso à alimentação básica. E demonstrou que está interessado em aprender com o Brasil políticas públicas de superação da pobreza. “Pedi isso a Dilma, que mostrou muita predisposição em ajudar no que vocês, brasileiros, já têm experiência.” Chegou a afirmar que, se o país continuar com índices tão altos de pobreza ao final de seu mandato, em 2018, seu governo será obrigado a dizer que fracassou.

Cartes é dono de empresa de tabaco e acusado de envolvimento com narcotráfico, lavagem de dinheiro e contrabando de cigarros para o Brasil. Na entrevista, ele rebateu essas acusações e disse que criou uma página na internet para prestar esclarecimentos. “Isso é absolutamente falso. Depois que entrei na atividade política comecei a encontrar todo tipo de acusação.”

O presidente eleito também falou sobre os interesses comerciais entre Brasil e Paraguai. “O Paraguai tem interesse para o Brasil, pelo custo energético e de mão de obra. Juntos, os dois podem obter benefícios.” O desejo de fazer o país voltar ao Mercosul foi expresso por Cartes diversas vezes. Ele disse que fará todos os esforços para a reintegração. O Paraguai foi afastado do bloco comercial, abrindo espaço para o ingresso da Venezuela, e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) em represália ao impeachment de Lugo. “Temos mais atrativos para buscar coincidências do que ficar nessa diferença, que não é boa para ninguém”, afirmou. “É hora de reparar erros. Quando os senadores paraguaios tomaram a decisão de vetar a Venezuela era outro ambiente; hoje o clima é bom, o compromisso é que se normalizem as relações de mercado comum.”