Organize e ocupe!

O que assusta o 1% da população atendido pelo sistema econômico controlado por Wall Street é saber que os outros 99% já percebem a necessidade de mudar

Os ativistas do movimento Occupy Wall Street captaram o sentimento do mundo ao apontar os holofotes sobre a desigualdade e sobre o papel dos grandes bancos e corporações nos saques às economias e no sequestro da democracia. Foi fascinante a forma como conseguiram trazer à tona assuntos que nunca havíamos conseguido pautar para a opinião pública de maneira “comportada”. Não fugiram do confronto, das prisões nem da ruptura com meios tradicionais de convencimento da opinião pública. Nem apostaram em bandeiras modestas para parecer “razoáveis”, sem alarde.

O Occupy Wall Street tem mais semelhanças com as greves operárias dos anos 1930 do que com os movimentos sindicais e políticos de hoje em dia. Pode parecer um contrassenso comparar os tempos da velha economia industrial com o mundo conectado e on-line, do Twitter e do Youtube, mas tem tudo a ver. Assim como as greves e ocupações dos anos 1930 resistiam até alcançar seus objetivos, os integrantes do Occupy garantem que o movimento continua indefinidamente, que não vai conquistar nada em um dia ou após algumas manifestações, tampouco elegendo políticos que defendam isoladamente a causa. Eles estão num lugar determinado, o Occupy, e, como num piquete, qualquer pessoa pode chegar junto para apoiar e interagir. E espalham energia por toda parte.

Passei todo o mês de outubro participando de reuniões, marchas e outras atividades em todo o país. Tenho visto muito mais gente do que imaginava aderindo ao Occupy, e movimentos espontâneos em lugares improváveis, de Bismarck, em Dakota do Norte, a Jackson, no Mississippi. Ao apoiar o movimento, sem querer dirigi-lo, grupos de combate à desigualdade e ao poder do sistema financeiro ajudam a mudar o destino de nosso país, numa relação de fortalecimento mútuo.

Durante o verão, enquanto o Occupy era concebido, associações comunitárias, sindicatos e outras organizações planejaram ações em todo o país a partir de setembro, envolvendo desobediência civil pacífica, sempre tendo como objetivo atingir Wall Street, os bancos e o poder das corporações. No estado de Washington, ações simultâneas em Seattle e outras três cidades derrubaram uma reunião da elite empresarial promovida pelo JP Morgan num resort. A onda se espalhou para São Francisco, Los Angeles, Boston, Chicago, Nova York, Minneapolis, Denver, Honolulu.

Assim que o Occupy Wall Street começou a ocupar a consciência nacional, grupos comunitários e sindicatos locais organizaram o Occupy Boston. Em Chicago, sindicatos e movimentos sociais realizaram a “retomada da cidade”. Em Minnesota, ocorreram dezenas de ações em bancos, no conselho escolar e no local onde se instalou o Occupy Minneapolis. Em outra manifestação, mil pessoas sentaram-se em frente ao prédio do banco Wells Fargo, que apoia políticas anti-imigrantes. Em Nova York, a organização Comunidades Nova-Iorquinas pela Mudança convocava clientes a retirar recursos investidos no JP Morgan Chase. A Marcha dos Milionários pela Park Avenue foi acompanhada por vários integrantes do Occupy Wall Street. A cobertura da mídia não conseguia informar quem estava liderando o quê.

Esta é a beleza do momento: ainda podemos turbinar o impacto do Occupy se continuarmos apoiando uns aos outros e aprendendo uns com os outros. Em 1937, quando a greve dos trabalhadores da GM em Flint (Michigan) alcançou projeção nacional, as elites tentaram isolá-los, chamando-os de radicais, comunistas e anarquistas, que destruiriam o sistema econômico. Agora, diante do súbito crescimento do Occupy, não nos surpreende que o 1% da população que se beneficia do atual modelo desfira os mesmos ataques. O que realmente os assusta é o fato de que os outros 99% já percebem a necessidade de destruir o sistema manipulado por Wall Street, os grandes bancos e corporações e substituí-lo por um modelo que proporcione oportunidades e justiça social. E que estamos preparados para nos engajar numa ação sustentável, contundente e pacífica para fazer isso acontecer.

Stephen Lerner é assessor da presidência do Sindicato Internacional dos Trabalhadores no Setor de Serviços (Seiu). É idealizador da campanha Justice for Janitors, por emprego decente para os trabalhadores nos serviços de limpeza nos EUA. Artigo do semanário The Nation, de 7/11/2011.