Editorial

A vida reciclada

paulo witaker/reuters Erradicando o desmatamento da Amazônia o Brasil reduziria em 80% suas emissões de CO2 Algumas importantes categorias profissionais com campanhas salariais neste semestre fecharão 2009 mantendo a tendência […]

paulo witaker/reuters

Erradicando o desmatamento da Amazônia o Brasil reduziria em 80% suas emissões de CO2

Algumas importantes categorias profissionais com campanhas salariais neste semestre fecharão 2009 mantendo a tendência dos últimos anos. Bancários, metalúrgicos, correios, petroleiros, químicos e plásticos, entre outros, têm em comum o fato de haverem enfrentado uma resistência incomum dos empregadores em negociar com transparência, alguns com táticas provocativas voltadas a desgastar entidades sindicais. Os reajustes acima da inflação são um fenômeno que tem se repetido entre mais de 90% dos setores analisados pelo Dieese, num claro sinal de que a recuperação do emprego gera melhores negociações, e vice-versa. Quando uma fatia dos lucros se reverte em salários, participações em resultados e acordos coletivos mais dignos, além da injeção de recursos no motor da economia ocorre um movimento de distribuição de renda. Na última meia década, essa engrenagem distributiva, ainda modesta diante da histórica concentração brasileira, converteu-se numa das principais blindagens diante da recente crise. O desempenho da economia e as intervenções no cenário externo conferiram ao governo do Brasil um lugar à mesa dos países mais influentes do mundo. Essa posição será testada mais uma vez nos debates sobre o clima, na Dinamarca.

A edição de novembro da RdB deu destaque ao tema, que voltará em janeiro com os resultados de Copenhague. Para se ter uma ideia, de acordo com o inventário oficial divulgado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o lançamento de carbono decorrente do uso do solo responde por quase 60% das emissões do país. Zerar o desmatamento, controlar o avanço das monoculturas e da pecuária sobre a Amazônia e estimular o reflorestamento seriam bons exemplos para um planeta cujo aquecimento pode anular as conquistas da humanidade e pôr a própria espécie sob ameaça – crescente nos últimos 50 anos graças às chamas de uma sociedade de consumo insaciável.

Pena que os meios de comunicação de massa e grande parte da indústria cultural não estejam em sintonia com essa necessidade e ainda funcionem como elo entre o sistema concentrador e predador e a ambição humana que o abastece. Felizmente, há indícios de que nem eles resistirão à obrigação de se reciclar. E quem sabe a Conferência Nacional de Comunicação, também neste dezembro, possa plantar pequenas sementes de novos meios de as sociedades terem acesso à informação.