curta essa dica

Histórias conservadas no álcool

divulgação Lupicínio Rodrigues e Millôr Fernandes O Pasquim, de Tarso de Castro, Jaguar, Paulo Francis e companhia entrou para a história como o jornal que peitou a ditadura usando apenas […]

divulgação

Lupicínio Rodrigues e Millôr Fernandes

O Pasquim, de Tarso de Castro, Jaguar, Paulo Francis e companhia entrou para a história como o jornal que peitou a ditadura usando apenas o humor e a irreverência como armas. E deixou como herança documentos memoráveis de sua época em forma de entrevistas. O crítico e historiador Tárik de Souza separou algumas delas, com cantores e compositores que faziam alguma diferença nos anos 1970, e organizou o livro O Som do Pasquim (Ed. Desiderata), que acaba de sair. Estão lá Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, Raul Seixas, Moreira da Silva e Waldick Soriano.

É uma delícia, para ser lido num fôlego só. Como a maioria das entrevistas foi feita em bares e restaurantes da zona sul carioca, regadas a uísque, cachaça e vodca, nada deixou de ser perguntado e respondido. Chico, por exemplo, bebeu Fernet Branca (aperitivo de origem italiana), uísque e cerveja. Entregou tudo, até mesmo seu passado como ladrão de carro no bairro do Pacaembu. Jaguar chegou a provocá-lo, dizendo que A Banda era uma das músicas mais chatas da história da MPB. Chico concordou.

Waldick Soriano, o rei da cafonice, aceitou ser sabatinado desde que fosse em seu território: o suburbano restaurante Tasca, na Ilha do Governador. O uísque habitual foi trocado pela cachaça do “sítio do Marcolino”, outra exigência do entrevistado. Valeu a pena. Waldick era um homem à moda antiga – “A fêmea é comandada pelo macho, entende? Num casal de passarinhos o macho manda; a vaca teme o boi, é assim” –, mas autêntico. Em tempos de politicamente correto, seria preso pela frase: “A mulher de qualquer cor é gostosa. Mas uma crioula é gostosa pra cachorro. Eu não sei por que toda crioula é mais quente que qualquer branca”.

Waldick sofreu com as mulheres. E vice-versa. E ninguém entendia mais de dor de corno que Lupicínio, o compositor gaúcho de Nervos de Aço. Foi preciso ter um fígado de aço para chegar ao fim da entrevista com ele, encerrada às 9h30 da manhã, na calçada do restaurante Grego, no centro do Rio. Os pássaros já cantavam quando o rei da dor-de-cotovelo deu a receita para a felicidade: “É melhor brigar junto do que chorar separado”. Genial.

O livro é cheio de revelações. Luiz Gonzaga, por exemplo, confessou que era doido por Lampião e, veja só, quase virou sanfoneiro oficial do bando, aos 16 anos. Mas na última hora o cangaceiro desviou do caminho para Araripe para ver Padre Cícero em Juazeiro. Raul Seixas fala de seus anos de fome no Rio de Janeiro, Tom Jobim conta detalhes de sua primeira relação sexual e Moreira da Silva explica como virou Kid Morangueira. Para ler em silêncio, ao som de bossa nova e de olho nas ilustrações assinadas por Nássara, mestre do traço. R$ 40. (Por Tom Cardoso)

Três minutos

Mais de 30 cineastas do mundo inteiro celebraram o amor ao cinema e homenagearam os 60 anos do Festival de Cannes, em 2007. Uma obra coletiva, Cada um com Seu Cinema (Chacun Son Cinéma), possui 34 curtas de aproximadamente três minutos. Tem Irmãos Coen, Amos Gitai, Alejandro Gonzáles Iñárritu, Claude Lelouch, David Lynch, Roman Polanski, Gus Van Sant, Lars von Trier, Wim Wenders, Wong KarWai. Walter Salles cria uma engraçada performance musical com os repentistas Caju e Castanha em frente de um cinema, em A 8.944 Km de Cannes. Muitos diretores focaram a decadência das salas que eles frequentavam desde a juventude, num lamento nostálgico sobre um tempo em que as pessoas preferiam a experiência coletiva do escurinho do cinema. Disponível em DVD.

Herói dos quadrinhos

Fãs e colecionadores das Aventuras de Tintim podem comemorar os 80 anos de um dos maiores heróis das HQs. No fim de 2008, a editora Cia. das Letras completou a coleção de 24 volumes que imortalizou o topete, a coragem e a honestidade do repórter Tintim, do belga Hergé. Seu inseparável cachorro Milu e os amigos capitão Haddock e professor Girassol já estiveram num sequestro de avião na Austrália, acharam múmias no Peru, salvaram um rei dos Bálcãs e enquadraram diversos vilões pelo mundo. Hergé criou o personagem para o suplemento juvenil Petit Vingtième, do jornal Vingtième Siècle, em 1929. No País dos Sovietes, Tintim e Alfa-Arte, Tintim e os Pícaros, Voo 714 para Sidney e outros 20 títulos estão nas livrarias. De R$ 36 a R$ 42.

Memórias de Martinho

Chegou às lojas um combo que sacudiu as prateleiras: O Pequeno Burguês é composto por CD e DVD com músicas de todas as fases da carreira de Martinho da Vila. As 20 canções são intercaladas com boas histórias e suas inspirações, num ambiente que lembra uma familiar sala de estar. Menina Moça, Casa de Bamba, Madrugada, Carnaval e Chuva, Jaguatirica e Tom Maior são alguns sucessos que não abusam das tentações da tecnologia. O álbum tem apenas violão, cavaquinho e percussão. R$ 35, em média.