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Feminismo russo e infantil, conto de fadas nepalês e amor em Hiroshima

Boitempo lança antologia de autoras russo-soviéticas. Chimamanda Ngozi ensina como educar crianças feministas. filme conta aventura de dois garotos nepaleses. E 'Hiroshima Meu Amor' em versão restaurada

Reprodução/Boitempo Editorial

Mulheres protestam em São Petersburgo às vésperas da Revolução de Fevereiro de 1917

Em 8 de março de 1917, mais de 90 mil mulheres se reuniram na Rússia para protestar contra o tsar Nicolau II, a participação do país na 1ª Guerra Mundial e para exigir melhores condições de vida e trabalho. A manifestação conhecida como Revolução de Fevereiro acabou sendo uma espécie de prenúncio da Revolução de Outubro, que derrubou o tsarismo, levou os sovietes ao poder e culminou com a construção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Para celebrar a data e o Dia Internacional da Mulher, a Editora Boitempo lança o livro A Revolução das Mulheres, uma antologia que traz artigos, atas, panfletos e ensaios de autoras russo-soviéticas produzidos naquele período.

A importância da emancipação da mulher, da igualdade entre os gêneros nas lutas sociais por melhores condições de vida e trabalho, feminismo, luta de classes, família, leis e religião são alguns dos temas tratados na antologia organizada por Graziela Schneider Urso, pesquisadora da Universidade de São Paulo na área de Literatura e Cultura Russa.

A expressão das mulheres russas sobre história, política, feminismo e os temas que lhes pertencem – igualdade de direitos, sufrágio, condições das operárias e camponesas, amor livre, casamento, maternidade, divisão das tarefas domésticas, aborto, religião, prostituição etc. – traçaram caminhos subterrâneos com o intuito de conquistar seus próprios espaços. O objetivo deste livro é lançar luz sobre essas manifestações, trazendo‐as para o primeiro plano”, anuncia organizadora na apresentação da obra.

Os textos retratam momentos revolucionários, com textos e materiais de mulheres conhecidas como Nadiéjda Krúpskaia, Aleksandra Kollontai e Inessa Armand e de autoras ainda consideradas inéditas para o público brasileiro, como Anna Kalmánovitch, Maria Pokróvskaia, Ariadna Tirkóva‐Williams e Konkórdia Samóilova. “Trata‐se de autoras de extrema relevância para os estudos feministas, cujo legado perdura até hoje. Elas representam vertentes diversas do feminismo russo: liberais, como Pokróvskaia e Tirkóva‐Williams; marxistas, como Krúpskaia, Kollontai e Armand; radicais, como Kalmánovitch; de origem camponesa, como Chapír. Um retrato da época com todas as suas contradições, pelo olhar de mulheres múltiplas. A Rússia e a União Soviética foram precursoras no que se refere à luta das mulheres pela emancipação e às suas conquistas”, aponta Graziela.

Ainda hoje, quando se trata de discutir a história e as questões das mulheres russas, os referenciais são, em grande parte, textos assinados por homens, apesar de existir uma vasta bibliografia feminina, tanto de fontes primárias como secundárias ou terciárias.” Este é um dos diferenciais do livro. Segundo a Boitempo, ele foi integralmente feito por mulheres: conteúdo (textos, panfletos etc.), capa, edição, preparação, revisão e diagramação.

A obra chega às livrarias na semana em que deve ser realizada uma greve internacional militante, programada para o dia 8 de março. A mobilização foi convocada por um um grupo de feministas americanas, entre elas Angela Davis e Nancy Fraser. Confira o texto convocatório integral no blog da Editora Boitempo.

Revolução_capaA Revolução das Mulheres
Organização:
Graziela Schneider Urso

Orelha: Daniela Lima
Quarta capa: Wendy Goldman
Apresentação: Graziela Schneider Urso
Páginas: 276
Preço sugerido: R$ 54

 

Por uma sociedade igualitária

A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie acaba de lançar um livro sobre como combater o preconceito pela educação. Depois dos lançamentos de Sejamos Todos Feministas, Americanah, Hibisco Roxo e Meio Sol Amarelo, Chimamanda volta ao tema igualdade de gênero em Para Educar Crianças Feministas (Companhia das Letras). O livro escrito em formato de carta é uma espécie de manifesto que traz 15 sugestões para educar filhos e filhas dentro de uma perspectiva feminista.

Baseada em sua experiência pessoal, a escritora traz conselhos para pais e mães de meninos e meninas no intuito de oferecer uma formação igualitária a todas as crianças. Segundo ela, este percurso 

começa pela justa distribuição das tarefas entre pais e mães. As dicas diretas e bem humoradas pretendem promover o empoderamento das meninas, para elas sejam fortes, independentes e não aceitem normas sociais que não sejam igualitárias, para que as crianças entendam a importância de falar com liberdade sobre sua aparência, identidade e sexualidade, entre outras questões importantes para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa para todos e todas.

EducaçãoPara Educar Crianças Feministas 
Título original:
Dear Ijeawele Or A Feminist Manifesto
Editora: 
Companhia das Letras
Tradução: 
Denise Bottmann
Capa: 
Claudia Espínola de Carvalho
Páginas: 
96
Preço sugerido: 
R$ 14,90

 

Nepal

Cumplicidade entre diferentes

O filme Nas Estradas do Nepal, de Min Babadur Bham, conta a história de Prakash e Kiran, dois meninos de castas diferentes que vivem no Nepal durante a guerra civil de 2001. Prakash pretende usar os ovos de Karishma, como ele chama sua galinha, para pagar sua escola, mas seu pai decide vender o animal para a organização de uma festa para recepcionar o rei do país. A jornada dos meninos começa aí, quando passam a procurar a galinha e têm de dar um jeito para comprá-la de volta. O que eles não sabiam era que aquela aventura durante o período de guerra e trégua trazia riscos que eles ainda não conseguiam compreender.

Além de paisagens deslumbrantes, a obra traz cenas que intercalam as belezas bucólicas da região com momentos de brutalidade e violência. Mas o mais bonito é ver que, para os meninos, a cumplicidade existente entre eles é muito mais importante que suas castas e suas diferentes situações sociais. O longa-metragem que tem estreia prevista para esta quinta-feira (9) no Brasil foi selecionado para a lista de concorrentes ao título de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2017.

 

HiroshimaClássico da Nouvelle Vague restaurado

O filme Hiroshima Meu Amor, obra-prima do cineasta francês Alain Resnais, volta aos cinemas em versão restaurada nesta quinta-feira (9). Considerado o precursor do movimento Nouvelle Vague, o longa-metragem que tem roteiro da escritora Marguerite Duras se passa em 1959 na cidade de Hiroshima, quando um arquiteto japonês encontra por acaso uma atriz francesa que está na cidade para fazer um filme sobre a paz. Mesmo casados com outras pessoas, os dois acabam se envolvendo e se tornam confidentes.

De uma maneira inovadora para a época, Resnais explora a lembrança dos dois personagens em forma de flashbacks enquanto o arquiteto e a atriz esperam o momento que terão de se separar. Originalmente lançado em 1959, Hiroshima Meu Amor foi indicado à Palma de Ouro em Cannes e recebeu o prêmio de melhor filme do Sindicato Francês dos Críticos de Cinema naquele ano.

O longa encerra a segunda fase do ciclo do Clássica, um projeto da Zeta Filmes que viabiliza o lançamento de filmes antigos, clássicos ou cults em festivais e cinemas brasileiros em formato digital. O projeto já relançoulongas do cineasta sueco Ingmar Bergman (O Sétimo Selo e Morangos Silvestres), do italiano Federico Fellini (A Doce Vida e ), de Pier Paolo Pasolini (Mamma Roma), do diretor alemão Werner Herzog (Nosferatu – O Vampiro da Noite e Fitzcarraldo), de Jim Jarmusch (Estranhos no Paraíso), de Michelangelo Antonioni (Blow Up) e de Nicolas Roeg (O Homem que Caiu na Terra).

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