editorial

Batalhas serão políticas, jurídicas, de informação e nas ruas

Pessoas que vestiram amarelo para protestar contra a corrupção foram, em sua maioria, massa de manobra para dar suporte ao golpe

RBA

Há várias edições, a revista alerta sobre as consequências do golpe

“Pobre e classe média defendendo o golpe faz lembrar aquele mascote da Sadia. Aquela ave feliz que fala bem da empresa que mata aves.” Esta frase, tirada de um desses “memes” que circulam nas redes sociais, é ilustrativa do processo de enganação a que foi submetida a população nos últimos tempos. Pessoas que vestiram amarelo para protestar contra a corrupção foram, em sua maioria, massa de manobra para dar suporte ao golpe. E com ele se impôs um governo fisiologista, carregado de denúncias de corrupção, do qual partirão ainda os ataques a direitos sociais e trabalhistas, que não escolherão suas vítimas pela cor da camisa. Todos serão afetados.

A tática dos usurpadores foi encorpada pela violência típica das ditaduras. No dia 31 de agosto, quando São Paulo protagonizou uma gigantesca manifestação pela democracia, pelo “Fora, Temer” e por “Diretas já”, mais de 20 pessoas haviam sido detidas mesmo antes de o protesto começar. Entre elas, menores de idade sem direito a defesa. Atos dos dias anteriores e seguintes também foram marcados pelo uso desmedido de tropas e armas. O enredo e os ingredientes se complementam: o poder econômico a sustentar políticos inescrupulosos, o poder da mídia a enganar a sociedade e a força das tropas a sufocar as vozes dissonantes.

Sem que o povo seja convocado a decidir sobre o destino do país, nenhum governo terá legitimidade para evitar que mergulhemos numa crise ainda mais penosa – e a, pelo menos, mais dois anos de instabilidade política e social. A única certeza de agora é de que se não houver resistência, as pessoas sofrerão mais, a crise não terá hora para terminar e corre-se ainda o risco de o poder ser usurpado para além de 2018. Aos movimentos sociais e à sociedade organizada cabe dialogar muito com a população desorganizada e envolvê-la nessa batalha – política, jurídica, de informação e, sobretudo, nas ruas.