editorial

Em legítima defesa, cabe aos trabalhadores resistir

O golpe jurídico-parlamentar em curso tenta fixar no poder políticos ligados a essa mentalidade atrasada, razão pela qual não conseguiam mais ganhar eleições

FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

Trabalhadores de diversas categorias durante protesto no centro do Rio de Janeiro

A lógica é simples: a pretexto de equilibrar as contas, o governo promove cortes de gastos, programas sociais são interrompidos, os juros tornam proibitivo o crédito para pessoas e empresas, fazem explodir a dívida pública. A máquina da economia para, a renda das famílias despenca, os empregos somem. Para os economistas que defendem essa lógica, recessão e desemprego são apenas fórmulas matemáticas, “macroeconômicas”, de combate à inflação. Essas ideias moveram a dita “estabilização da economia” nos anos de governo Fernando Henrique. O real parelho ao dólar barateava itens importados, promovia “concorrência” com os preços internos e segurava a inflação. A fórmula, destrutiva para a indústria nacional, fez também com que um em cada cinco trabalhadores passasse meses a procura de emprego – e, quando encontrava, era uma ocupação pior.

O ambiente de desemprego ao seu redor torna o cidadão mais frágil ao perder a força para negociar melhorias salariais e em condições de trabalho, seja individualmente, seja coletivamente. Ele tem de dar “graças a Deus” por ainda não ter sido despedido. E começa a ver com mais frequência empresários e seus porta-vozes nos jornais entoarem a ladainha de que é preciso “modernizar” e “flexibilizar” leis trabalhistas, reduzir o custo do trabalho para que as empresas tenham competitividade e empregos sejam criados – como se os motores de uma economia não fossem o mercado aquecido, o consumo das famílias, o aumento das demandas por produção, enfim, o desenvolvimento.

Em reportagem nesta edição, o juiz trabalhista Jorge Luiz Souto Maior afirma: “O que se quer é destruir os avanços conquistados sob o falso argumento de que se está ‘modernizando’ as relações de trabalho”. Ele lembra que esse argumento repete o da década de 1990, e ressalta: “O que se pretende é mesmo acabar com a proteção legal do trabalho, promovendo, ao mesmo tempo, uma destruição da ação sindical”.

O golpe jurídico-parlamentar em curso tenta fixar no poder políticos ligados a essa mentalidade atrasada, razão pela qual não conseguiam mais ganhar eleições. Por isso, cabe aos trabalhadores resistir ao golpe para que se restaure a democracia – e com ela o respeito à Constituição e aos seus direitos.

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