Editorial

‘Ao desalento, movimento. Os 10 anos da RdB, do lado certo’

JANAINA CÉSAR/OPERA MUNDI Volta, democracia: brasileiros realizam protesto contra o governo interino em Roma No momento em que esta edição era concluída, brasileiros eram escrachados pelos poderes da República. O […]

JANAINA CÉSAR/OPERA MUNDI

Volta, democracia: brasileiros realizam protesto contra o governo interino em Roma

No momento em que esta edição era concluída, brasileiros eram escrachados pelos poderes da República. O governo interino mobilizava empresários (e financiadores de campanhas) para conter a reação social a suas primeiras semanas de maldades. O Conselho de Ética da Câmara se via às voltas com a impunidade de Eduardo Cunha. O Senado, com vários suspeitos de crimes sob investigação, entre eles o presidente da Casa, o líder de governo interino e o candidato derrotado na eleição presidencial passada, conduzia a fase do impeachment contra uma presidenta sem crime. Agora com a possibilidade real de muitos mudarem de voto no julgamento derradeiro, previsto para agosto. Alguns honestamente preocupados com sua reputação e sua história. Outros barganhando o preço de seu apoio ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff.

No Judiciário, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes lamentava o constrangimento da Corte por vazamentos de informações sigilosas contra c­aciques do golpe – como se não fosse todo esse estado de coisas fruto de dezenas de vazamentos seletivos nos últimos anos. E na imprensa comercial, o quarto poder prosseguia a onda de manchetes e “reportagens” com os fins de dar um ar republicano ao processo ilegítimo que humilhou o país, de disseminar o descrédito e o ódio à política e de semear o terreno para os próximos “salvadores” da pátria. Em 1964, vestiam fardas. Hoje, a toga.

O festival de hipocrisias põe o país em transe. O descrédito na política divide a sociedade. Leva parte dela a sentimentos que vão do desalento ao ódio. Outra parte faz barulho para mostrar que por trás desse cenário surrealista estão ataques a direitos conquistados com lutas, de muitas gerações. Do direito a um prato de comida e a pôr filhos na escola ao direito de voto, passando por todos os avanços sociais em busca do trabalho decente e da cidadania. Essa parte da sociedade faz a batalha pela restauração da democracia. Ocupa ruas, locais de trabalho, poderes e espaços públicos para fazer o embate político. Nas redes e com os poucos meios com que pode contar, faz o contraponto à linha de montagem da indústria tradicional de informação.

É deste lado que está, há dez anos completados neste 12 de junho, esta Revista do Brasil. Graças ao suor de muitos trabalhadores, ao profissionalismo de outros e à energia de todos por almejar um mundo mais democrático, civilizado e humano.

A luta continua.