editorial

Esforço e superação. Por mais civilidade na disputa política

O país vive um raro momento de comunhão de esforços e de divisão de responsabilidades. Um momento que deve ser valorizado

IEC/FLICKR

Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas identificaram elo entre o zika e a microcefalia

Alguns aspectos chamam a atenção nas operações de enfrentamento ao Aedes aegypti e aos males por ele propagados. O primeiro é o papel dos sistemas de saúde pública na descoberta da ligação do mosquito da dengue e da chikungunya com a transmissão do vírus zika. Foi um órgão público, o Instituto Evandro Chagas, vinculado ao Ministério da Saúde, o primeiro a encontrar a presença de zika em amostras de tecidos e sangue de um bebê com microcefalia que morreu pouco depois do nascimento, no Ceará.

São centros públicos de pesquisas, em diferentes instâncias – como Fiocruz, Butantan, Unicamp – os mais adiantados em experimentos visando, no médio prazo, à descoberta de vacinas, e no curto prazo, à aceleração de diagnósticos. E tem cabido a autoridades públicas – federais, estaduais e municipais – conduzir o envolvimento da população na “guerra” ao mosquito. Trata-se de uma intervenção ilustrativa do papel do Estado na defesa do interesse coletivo.

É sabido que o paladar do Aedes, hoje, é menos exigente e mais democrático. Já não faz questão de água limpa e gosta de toda gente, sem distinção de classe. Ricos e pobres estão sujeitos a permitir a desova do mosquito e a se expor a sua picada. E estão todos chamados à responsabilidade de participar da batalha.

Mas se sabe também que o inseto encontrou ambiente propício para se desenvolver em climas tropicais e lugares descuidados de saneamento básico. O Brasil tenta tirar esse atraso. Desde 1990, passou de 70% para 82% o contingente de brasileiros com acesso a água tratada. Os investimentos federais em ampliação da oferta de água e tratamento de esgoto somaram R$ 104 bilhões entre 2007 e 2015. Mas o fato de o ­Estado durante décadas não ter olhado para essas carências faz com que 35 milhões de brasileiros ainda não tenham acesso a água e outros 100 milhões, a coleta de esgoto.

É longo, ainda, o caminho a percorrer, e espaço para críticas não falta. O país, no entanto, vive um raro momento de comunhão de esforços e de divisão de responsabilidades. Que esse momento seja valorizado e sirva de referência para que a classe política aprenda a travar suas disputas e divergências civilizadamente, sem pôr em risco o funcionamento do Estado, dos poderes – e da democracia. O “quanto pior, melhor” não é melhor para ninguém.