editorial

Outra economia

ADONIS GUERRA/SMABC Greve dos operários da Mercedes impediu 1.500 demissões O sistema financeiro brasileiro se consolidou no século passado como algo perdulário. O economista José Carlos Braga, professor da Unicamp, […]

ADONIS GUERRA/SMABC

Greve dos operários da Mercedes impediu 1.500 demissões

O sistema financeiro brasileiro se consolidou no século passado como algo perdulário. O economista José Carlos Braga, professor da Unicamp, diz em reportagem nesta edição que o setor bancário não é partícipe do processo de industrialização, como é tradição dos países onde políticas industriais se desenvolveram e se internacionalizaram. “Desde o Plano de Metas de JK, nos anos 1950, constituiu-se um sistema bancário privado inapto a apoiar o desenvolvimento. A trajetória do sistema bancário brasileiro sempre foi de papel passivo na economia, beneficiário dos títulos da dívida pública”, observa Braga.

E põe “benefício” nisso. Em 2013, o governo gastou com juros da dívida R$ 250 bilhões. No ano seguinte, R$ 334 bilhões. E nos primeiros seis meses de 2015, mais R$ 225 bilhões. Depois de sucessivas altas nos juros, a última reunião do Comitê de Política Monetária resolveu manter a taxa básica em 14,25% ao ano. Um universo inteiro de economistas, a exemplo de Braga, vê como contrassenso a equipe econômica cortar R$ 80 bilhões do orçamento para fechar as contas do ano, expor-se a uma agiotagem desse tamanho e submeter-se o país a uma recessão.

Quando parte do empresariado pensa pequeno, os movimentos sociais vêm tentando fazer sua parte. O ano começou com uma greve de dez dias na Volks contra as demissões de 800 funcionários. E agosto terminou com os operários da Mercedes-Benz fazendo o mesmo para manter emprego de 1.500 companheiros. Atualmente, a campanha nacional dos bancários se mobiliza para cobrar dos bancos mais responsabilidade social. Mas o governo também tem de fazer a sua parte.

É sabido o poder de sabotagem do sistema financeiro e dos que orbitam em sua ciranda. A qualquer iniciativa estrutural que ameace a governança financeirizada das economias, as “forças ocultas” se agitam. Foi o que ocorreu há três anos, por exemplo, quando o primeiro governo Dilma conseguiu levar os juros ao patamar mais baixo da história (7,25%). Essa linha de ação durou menos de dois anos.

Por isso, a agenda do país é uma constante disputa. Foi por meio do entendimento com os movimentos populares que o governo criou políticas sociais que resultaram em criação de empregos e distribuição de renda. A retomada da agenda do crescimento, passa por aí. Que o governo ouça mais quem o elegeu, e menos quem quer derrubá-lo.