História

As máquinas da Madeira, a ilha portuguesa e suas surpresas

Ilha tem vários locais a explorar. E esconde um curioso e bem organizado museu da imprensa

Magno Bettencort/Museu de Imprensa

Primeiros modelos de impressoras Heidelberg. A impressora Minerva (abaixo) é a peça mais antiga do acervo

impressora minervaA mil quilômetros da Europa e a 800 da África, o arquipélago da portuguesa Ilha da Madeira é um local de origem vulcânica, montanhoso e de temperatura agradável, a 90 minutos de voo a partir de Lisboa. Talvez seja conhecido de alguns pelo vinho da região. Os esportistas mais enfáticos devem lembrar que foi no Funchal, a capital, que Cristiano Ronaldo deu os seus primeiros passos e chutes. Há muito o que se conhecer na Madeira, que tem lá suas curiosidades, como na pequena cidade de Câmara de Lobos, ao lado do Funchal. Ali, numa curva, com direito a vista para o mar, fica o Museu de Imprensa Madeira, com pequenas e grandes preciosidades.

São aproximadamente 40 máquinas como linotipos e impressoras, a mais antiga de 1886. O espaço, de 2 mil metros quadrados, abriga ainda exposições, conferências e outros tipos de eventos. Até janeiro, por exemplo, o MIM abrigou uma exposição sobre o cineasta Manoel de Oliveira. Estão previstas uma mostra, a partir de agosto, sobre rótulos de vinho Madeira do século 20, e outra, no final do ano, sobre a Primeira Grande Guerra, em parceria com o Museu Nacional de Imprensa, que fica na cidade do Porto.

Por falar em guerra e em Madeira, quem passou por Câmara de Lobos foi Winston Churchill, então primeiro-ministro inglês, em 1950. Foi descansar e pintar. A imprensa local registrou a presença em primeira página, conforme se vê no acervo do museu.

Desde o primeiro jornal, lançado em 1821, são mais de 300 títulos. “Grosso modo, uma característica interessante dos periódicos publicados ao longo destes quase 200 anos é a de que são quase sempre muito politizados. Procuraram sempre afirmar e defender convicções muito explícitas e determinadas. Uns mais conservadores, outros mais liberais e alguns satíricos”, diz o diretor do museu, Lourenço Freitas, um ex-jornalista que durante dois anos coordenou o processo de coleta e recuperação do patrimônio que hoje compõe o acervo.

Museu da Ilha da MadeiraManoel de Oliveira
Museu teve exposição sobre o cineasta Manoel de Oliveira, morto no último 2 de abril aos 104 anos

O MIM foi aberto em setembro de 2013. Em um ano e meio, recebeu aproximadamente 5 mil visitas, sendo 800 de estrangeiros. “O percurso da imprensa tem evoluído ao longo do tempo. Desde a descoberta de Gutenberg no século 15 até hoje, e o MIM reúne não só antiguidade e memória, mas também cultura e conhecimento. No primeiro ano de atividade recebemos 74 visitas de estudo, o que por si só revela o interesse que existe em saber que conhecimento encerra o museu”, comenta Freitas.

A máquina mais antiga, fabricada em 1816, é uma impressora Minerva, da empresa norte-americana Golding&Company. Há outra de 1817, da alemã Augsburg, e uma máquina de composição mecânica de 1911, que pertenceu ao Diário de Notícias da Madeira, fundado há mais de 130 anos e ainda em atividade. O museu conta ainda com “um considerável patrimônio histórico tipográfico”, lembra Freitas.

É um lugar onde pode se conhecer o processo de elaboração de jornais que funcionou até relativamente pouco tempo atrás. Um processo fabril e braçal. “Acredito que conforme o homem vai evoluindo, vai deixando atrás de si um rastro que quando é reunido num museu permite mostrar no presente como era uma certa atividade no passado – e essa lição pode ser cultural, industrial ou sociológica”, analisa o diretor.

Formado por quatro ilhas, o arquipélago tem hoje 270 mil habitantes, sendo 112 mil apenas na capital. A Madeira era um local estratégico para a navegação à América do Sul e à África. Tinha a economia baseada na agricultura e nas exportações – particularmente, um período de produção intensa de cana-de-açúcar, no século 15. Posteriormente, o vinho deu fama à ilha. Algumas crises levaram a amplos processos de emigração, já no século 19, e um dos principais destinos foi o Brasil – estima-se que aqui exista uma comunidade de 150 mil madeirenses. Embora não seja um roteiro turístico usual, até pela localização, apenas o seu visual já recomenda a visita. Andar pela orla muito bem cuidada e arborizada, conhecer o Jardim Botânico, conferir o curioso Mercado dos Lavradores e passear no teleférico valem por um bom começo.

DAVID STANLEY/FLICKR/CCAs ilhas
A Madeira é um arquipélago formado por quatro ilhas. Tem hoje 270 mil habitantes