Flávio Aguiar

Pelo que torcer

Este ano, dizem minha bola de cristal e meu calo no mindinho do pé esquerdo, há muito o que esperar

banksy: Baloon Girl

Tomara que o grupo dos seis (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia) cheguem a um acordo com o Irã sobre o programa nuclear. Há chances de isso acontecer. E de não acontecer. A oposição é muito forte: republicanos nos EUA, linha dura no Irã, França, Israel. Se acontecer, o mundo ficará mais seguro.

A propósito, seria saudável para o mundo inteiro que Netanyahu perdesse as eleições que marcou para março. Se ganhar, podemos fazer o velório da esperança em algum processo de paz com os palestinos. Talvez perca: despedindo dois partidos mais ao centro, Netanyahu vai ter de se basear mais à direita, nos partidos judaicos ortodoxos. Mas pelo menos um, o da ex-ministra da Justiça Tipsi Livni, já se uniu ao Partido Trabalhista. Os dois teriam mais cadeiras no Parlamento do que o Likud do atual primeiro-ministro.

Os curdos, lutando em Kobani e no Iraque, merecem mais apoio internacional do que o que estão recebendo. Eles são a linha de frente contra os fascistas do Estado Islâmico, que de islâmico só tem o nome, e é tudo o que as forças reacionárias do Ocidente precisam para promover sua visão discricionária em relação a tudo o que é islâmico, árabe etc.

Vamos torcer para que a direita europeia perca pelo menos um pouco de seu ímpeto atual. A Europa conservadora – incluindo aí os setores à direita dos socialistas, social-democratas e verdes – está brincando com fogo. Ataca a esquerda, preocupa-se com a extrema-direita, mas suas políticas de austeridade jogam água no moinho dela.

E para que os trabalhistas ganhem na Inglaterra. Não vão mudar o programa neoliberal dos conservadores de David Cameron e dos liberais democratas, mas pelo menos o aliviariam. E quando mais não seja, poderiam solucionar o caso de Julian Assange, confinado na embaixada do Equador.

Também em Portugal o governo conservador poderia perder as eleições. Não vai adiantar tudo, mas sempre adiante alguma coisa. Quem sabe o Syriza vença as eleições na Grécia e reverta a “austeridade”. E os republicanos dos Estados Unidos se engasguem com suas diretivas completamente anacrônicas em relação a tudo:  aquecimento global, imigrantes, comportamento.

E que as esquerdas – assim, no plural – continuem a ganhar eleições na América Latina, sobretudo na Argentina, com o encerramento do mandato da presidenta Cristina Kirchner ao fim deste 2015. E que os programas do Uruguai, para a maconha e para a mídia, vinguem.

Na África, é preciso que as vacinas testadas contra o Ebola deem certo. É a única maneira de conter a propagação do vírus. Na Ásia, que a distensão lenta, segura e gradual entre a China e o Japão e a China e a Índia se consolide abrindo um caminho de paz para a região, que poderá talvez chegar às Coreias e ao Vietnã. E que o governo conservador da Austrália reconheça a necessidade de combater o aquecimento e as emissões de carbono.

No Brasil, ah, no Brasil… O Brasil precisa de uma oposição moderna e antianacrônica. Que o PSDB encontre seu prumo, e que seus líderes deixem de cortejar manifestações que pedem a volta da ditadura. Que Marina Silva consiga fundar sua Rede: é a melhor maneira de tirá-la da influência do pastor Malafaia. E o Brasil precisa de um partido voltado seriamente para questões ecológicas, no lugar desta coisa desossada em que o PV se transformou. Ah sim, e que o PT reencontre o caminho do diá­logo com a juventude e com as convicções que resultaram na sua criação e em seu crescimento, coisas que perdeu.

Finalmente, last, but not least, para ajudar a cicatrização do “Mineirazo”, que algum clube brasileiro ganhe a Libertadores e o Campeonato do Mundo. O Internacional de Porto Alegre, por exemplo.

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