Pisaram no tomate

Economia: 2013 não bombou, mas não foi como os do contra queriam

Se 2013 não foi bom como esperava o governo, também não foi a catástrofe anunciada pelos analistas de plantão

O efeito das manchetes das semanais não dura sete dias

Duas revistas semanais (Veja, da Editora Abril, e Época, da Editora Globo), supostamente concorrentes, expuseram capas semelhantes em abril deste ano, elegendo o fruto do tomateiro como exemplo de uma inflação descontrolada e de um governo perdido. Nos primeiros meses do ano o fruto vermelho subia cerca de 20% e acumulava perto de 100% em 12 meses. O tempo passou, e o tomatinho, de estrela de noticiário, voltou ao ostracismo. Afinal, o preço começou a cair e em setembro já recuava quase 40%, também em 12 meses. O exemplo é singelo, mas serve para demonstrar que, se o ano não foi a maravilha que o governo esperava, ou anunciava, também esteve longe de ser uma catástrofe, como alardeou a oposição, com ressonância na mídia.

“Não foi fácil pra ninguém”, disse em outubro o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao falar sobre 2013. Mas ele visualiza sinais de recuperação na economia mundial. Isso também já estaria ocorrendo com o mercado consumidor brasileiro, após certo “sofrimento” com a inflação. O IPCA,­ índice oficial, que chegou a somar 6,7% no meio do ano (em 12 meses), fechou setembro em 5,86%.

Para o economista José Silvestre, do Dieese, 2013 foi um ano que “patinou”, com incertezas sobre o desempenho da economia, e isso se refletiu nas negociações salariais, aumentando as dificuldades na mesa. No primeiro semestre, de 328 convenções e acordos cole­tivos anali­sados pelo instituto, a maioria (84,5%) superou a inflação, mas em proporção menor do que em 2012 (96,3%).

O índice de ganhos reais apurado­ ­entre janeiro e junho também diminuiu. Quando se fechar o balanço de 2013, ele acredita que os resultados de não deverão ser muito di ferentes.

“O mercado de trabalho, apesar das taxas de desemprego estáveis, tem uma perda de dinamismo. A renda continua crescendo, mas em patamar menor”, observa Silvestre. Ele aposta em um desempenho melhor da economia no próximo ano, embora os sinais ainda estejam­ “difu­sos”: a crise da Europa não será resolvida, mas não deverá se aprofundar, e a expansão da economia norte-americana foi maior do que se esperava, no segundo trimestre.

No Brasil, 2014 será ano de eleição e Copa do Mundo. Há de se acompanhar o comportamento da taxa de juros, que em outubro teve o quinto aumento seguido e foi a 9,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – e a aposta é que chegue a 10% na última reunião de 2013. Um aperto agora para certa folga no ano que vem?

Também segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, o mercado de trabalho está em situação de estabilidade. Ocupação e rendimento seguem crescendo, mas em ritmo menor, por exemplo, na comparação com o período 2011-2012.

“Você tem um mercado que, embora contrate, é muito parecido com o de 2012”, analisa.
Já o Ministério do Trabalho e Emprego fala em “reação” do mercado formal, com os resultados de setembro, quando o saldo de contratações com carteira assinada somou 211 mil. No ano, são 985 mil vagas a mais.

Vander Fornazieri/RBA e Edmilson Magalhães/SMABCmontagem.jpg
Campanhas salariais de bancários e metalúrgicos: injeção de mais de R$ 9 bilhões na economia

Produtividade

Entre algumas das principais campanhas salariais concluídas no segundo semestre, metalúrgicos da CUT em São Paulo e bancários (negociação nacional) fecharam acordos com reajuste de 8% a 8,5%. Enquanto no primeiro caso fábricas de vários setores pararam conforme o andamento (ou impasse) nas negociações, no segundo o acerto só saiu após 23 dias de greve e de um intervalo de um mês entre a primeira (6,1%) e a segunda proposta (7,1%), e mais alguns dias para que fosse apresentado o índice final, de 8% a 8,5%.

Para o diretor de Relações do Tra­balho da Federação Nacional dos Bancos­ ­(Fena­ban), Magnus Apostólico, isso acon­teceu em parte não só pela pers­pectiva deste ano, “mas pela falta de visão clara para 2014”, especialmente no primeiro semestre. “A economia está girando lentamente”, afirma o representante da Fenaban. E acrescenta: “Não estamos falando em sair do zero, mas de uma convenção coletiva muito pesada”. Para ele, o país ainda tem “um sério problema” a resolver, porque os ganhos reais vêm crescendo acima da produtividade. “Isso é insustentável no médio prazo”, diz Magnus.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, contesta. “Os bancos não queriam dar aumento real. Não tem nada que justifique economicamente, não há nada que sinalize que os bancos não vão continuar crescendo.” Ela também aponta expectativas mais otimistas para o próximo período. “No segundo trimestre, o PIB cresceu 1,5% e no ano que vem há perspectiva de mais investimento, a inadimplência está caindo. Os indicadores são bons.”

Os sindicalistas sustentam ainda que os acordos salariais proporcionam estímulos à economia. Segundo estimativa do Dieese, o acordo alcançado pelos bancários resultará em mais R$ 8,7 bilhões em circulação nos próximos 12 meses. Esse impacto econômico, que inclui a participação nos lucros ou resultados (PLR), é 14,5% maior que o verificado em 2012.

No caso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a campanha salarial deste ano deverá injetar R$ 462 milhões na região, nos cálculos da subseção do Dieese na entidade. “É bom para a economia regional, para o comércio, para o consumo, para quitar dívidas e para a poupança. É um mecanismo importante de redução das desigualdades e de distribuição de renda”, diz o presidente do sindicato, Rafael Marques.

O professor Claudio Dedecca, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), vê o Brasil em um momento de “clivagem”, de definições, para o crescimento. “Para dar o salto, é fundamental que o investimento se acelere. Temos de transitar de um padrão de crescimento sustentado pelo consumo para uma dinâmica amparada no investimento. Ou encontramos brechas para enfrentar essa possibilidade, ou viveremos com uma taxa de crescimento relativamente baixa.”

Há também uma disputa ideológica no caminho, na opinião do economista. “Eu diria que tem muita espuma sendo feita. A visão mais conservadora está muito ativa, enquanto a visão desenvolvimentista tem dificuldade de exibir seu discurso de forma mais contundente.” No primeiro caso, está a pressão para que o Estado reduza gastos. “Com isso, em vez de gerar crescimento, corremos o risco de perder o pouco de crescimento que temos.”

Ele também vê exagero no cenário negativo desenhado neste ano. “A partir da pressão dos interesses financeiros, da banca, criou-se um quadro de expectativas pessimistas impressionante. Parecia que estávamos indo para o cadafalso.” Dedecca conta que, durante um evento, chegou a ser questionado por um colega inglês quanto à diferença do debate sobre a economia feito no meio acadêmico e na imprensa – esta última, para o professor, acompanha a visão do chamado mercado. “A grande mídia ‘compra’ de peito aberto essa situação.”