Os tempos no Brasil estão desfavoráveis aos acomodados

Editorial

Pnud-ipea

 

A expectativa de inflação para 2013 caminha às margens dos 6%. Para o governo, que segundo a presidenta Dilma Rousseff faz acompanhamento diário, está sob controle e dentro da meta. E para os historiadores não é nem sombra do que era há 30 anos. Em 1983, fecharia entre 160% (pelo IPCA) e 200% (segundo o INPC). Na ocasião, o então ministro do Planejamento, Delfim Netto, orientou o presidente-general João Figueiredo a baixar um decreto que limitava os reajustes salariais a 80% do INPC: para os gurus do mercado, Delfim entre eles, era a reposição das perdas que causava inflação. Hoje, o mercado prioriza a tese de que é preciso subir os juros.

Não foram só as interpretações macroeconômicas que mudaram. Em 1983, um mês antes da fundação da CUT (não, ainda não existiam centrais), os sindicatos convocavam greve geral contra a ditadura e o arrocho. Em seus passos contra o regime autoritário, o movimento sindical também foi um dos alicerces das Diretas Já e da Constituinte, consolidando a transição democrática. Os trabalhadores conseguiram resistir à avalanche neoliberal dos anos 1990, que destroçou empregos, mas não direitos antes conquistados. Mais que melhores salários e condições de trabalho – em 2012, 99% dos acordos coletivos alcançaram aumentos maiores que a inflação ou equivalentes –, eles passaram a disputar também o poder. Nas estruturas institucionais e fora delas, nas ruas.

Durante essas décadas, a CUT se inclui entre os protagonistas das mudanças, para melhor, na vida dos brasileiros. Um dos retratos mais evidentes está na divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos municípios. De acordo com o estudo, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em conjunto com o Ipea, o índice geral do país subiu em duas décadas, desde 1991, de 0,493 para 0,727 (o índice vai de 0 a 1). Dos 5.635 municípios brasileiros, apenas 32 (0,57%) possuem IDH considerado muito baixo. Em 1991, eram 85%. E ainda há muito o que melhorar.

Assim como a CUT pode melhorar, como admite seu presidente, Vagner Freitas. Diz ele: “O dirigente sindical tem de ser espelho do que é a sua base. Sempre com viés classista, pela divisão da riqueza, por um mundo em que o trabalho tenha mais valor do que a propriedade”. E os tempos, no Brasil, parecem desfavoráveis aos acomodados.