Editorial

Zunidos da Confecom

Ricardo Stuckert/PR Conferência: por nova regulação de concessões, banda larga pública e mais democracia Exemplos de falhas e omissões da cobertura da imprensa não faltam. Quem acompanhou as privatizações da […]

Ricardo Stuckert/PR

Conferência: por nova regulação de concessões, banda larga pública e mais democracia

Exemplos de falhas e omissões da cobertura da imprensa não faltam. Quem acompanhou as privatizações da telefonia, das elétricas e dos bancos pelos grandes jornais não ficou com a verdade, engoliu versões. O noticiário do mundo do trabalho costumeiramente deforma o papel dos sindicatos, das greves e das negociações. Quem se deixou levar pelas manchetes da crise também ficou mal informado. Empresas demitiram movidas a catastrofismo. O mesmo já havia acontecido com a febre amarela e as vacinações. Ou com a corrida indiscriminada aos prontos-socorros e ao Tamiflu para se prevenir (do medo) da gripe suína.

O escândalo no Distrito Federal – que tem o DEM à frente e atinge uma penca de partidos – é o mais recente retrato da perna curta dos jornalões. A oposição parlamentar e os movimentos sociais de Brasília há muito apontavam irregularidades. A mídia  nada publicava. Exatamente como a blindagem em São Paulo – estado e capital –, das gestões Serra e Kassab. Sem voz, oposição e sindicatos do DF gestavam um plano de mídia independente quando a casa de Arruda caiu. Da mesma forma no Rio Grande do Sul. As contradições da mídia concentrada e movida a versões explicam o êxito da 1ª Conferência Nacional de Comunicações (Confecom), que teve a participação de 2 mil comunicadores, entre delegados, convidados e observadores.

A comunicação no Brasil foi esquadrinhada e propostas inovadoras foram apresentadas. Mesmo em meio a um público tão diverso, com gente do empresariado, da sociedade civil, de um mundaréu de rádios comunitárias, blogs, sites, jornais, revistas, professores, jornalistas, sindicatos, associações e movimentos. Buscam-se novos mecanismos de difusão de informação no Brasil e uma nova regulação, desde as leis de concessões de rádios, passando por programas públicos de banda larga, chegando à distribuição da verba publicitária do governo. Enfim, mais democracia. A conferência sistematizou ideias esparsas, gerou uma plataforma de ação e acabou com a ingenuidade de muitos segmentos que ainda esperam algo dos grandes jornais. O escritor uruguaio Eduardo Galeano referiu-se ao primeiro Fórum Social Mundial, em 2001, como a ousadia de uma nuvem de marimbondos dispostos a incomodar o rinoceronte (a mídia submissa ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça). A Confecom foi um zunido da outra comunicação possível.