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Uma revista, um rádio e uma rede

Após três anos de uma iniciativa ousada e vitoriosa, idealizadores da Revista do Brasil ampliam integração com rádio e dão novo salto na internet

Roberto Parizotti

Ana Rita, professora voluntária, aproveitava a Revista para elaborar atividades: “A linguagem é de fácil entendimento”

Esta edição da Revista do Brasil marca três anos de circulação. Em vez das 23 entidades sindicais que decidiram lançá-la em 12 de junho de 2006, já são quase 60 as organizações que fazem a publicação circular por todo o país e alcançar 750 mil leitores. E quem procurá-la na internet será conduzido a um novo endereço: (www.redebrasilatual.com.br).

Mais que isso, notará que se deu mais um importante salto nesse projeto de comunicação popular.

A Rede Brasil Atual carrega todos os princípios de uma mídia democrática, moderna, cidadã – e gostosa de ver, ler e ouvir – para um serviço noticioso dinâmico, interativo, com atualizações ao longo do dia. Um espaço multiplicador de conteúdos de todos os que produzem informação livre da mídia comercial e monopolista. Será também mais um personagem a fazer das redes sociais – como Orkut, Facebook, Twitter – um ambiente de democratização do acesso à informação de qualidade.

Outra novidade do portal será o conteúdo em aúdio, fruto da sintonia com o projeto de radiodifusão Jornal Brasil Atual. O programa, também iniciativa do movimento sindical, vai ao ar na Grande São Paulo de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, nos 98,1 FM, e conta ainda com um serviço de rádio web que traz boletins e reportagens especiais ao longo do dia e está aberto a ser um espaço de difusão de produções feitas pelas entidades parceiras.

Passo à frente

O jornalista, sociólogo e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Venício Artur de Lima, considera que a Revista do Brasil tem oferecido a oportunidade de expressão dos grupos sociais que são historicamente criminalizados ou recebem cobertura jornalística preconceituosa da grande mídia. “É de esperar que o poder público e outros setores comprometidos com a democratização das comunicações continuem apoiando essa iniciativa para que ela cresça e se consolide definitivamente em todo o país.”

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Plásticas de São Paulo e Região é uma das entidades que fazem parte do projeto desde a primeira edição e entrega a revista na casa de 12 mil associados. O coordenador da Secretaria de Comunicação da entidade, Hélio Rodrigues de Andrade, valoriza o desafio de enfocar temas de interesse dos trabalhadores, disputando o espaço das grandes revistas convencionais. “Temos uma boa revista, mas temos de ser mais agressivos em alguns temas. Entrar mais em choque contra o capital”, defende.

Jesus Francisco Garcia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo, também no projeto desde 2006, concorda. “A Revista do Brasil não ocupa o espaço dos nossos boletins, pois comporta a agenda comum de toda a sociedade. Nosso desafio é refletir um projeto de desenvolvimento que priorize geração de emprego e distribuição de renda. Como crescer com o setor energético que temos?”, aponta o presidente do Sinergia-CUT.

Para Ari Aloraldo do Nascimento, coordenador-geral da Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT, a revista foi a “realização de um sonho” do movimento sindical. “Ela tem um papel muito importante, não pode ser ‘sindicaleira’. Precisa ser reconhecida pela sua diversidade, pela qualidade de abordagem dos temas que interessam a toda a sociedade.” Ari alerta que ainda falta ao projeto conquistar seu espaço no meio publicitário para garantir sua sobrevivência e ampliação.

A RdB funcionou também como ferramenta de apoio à sindicalização e de aproximação do sindicato com sua base. De acordo com Vinícius Assumpção Silva, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, a publicação ajudou no processo de recadastramento, que já teve retorno de 10 mil dos 18 mil associados da entidade. “Todos que leem a revista reagem positivamente. Temos de incentivar cada vez mais a participação dos sindicatos para ampliar sua inserção na sociedade.”

A secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, considera a Revista do Brasil, o projeto de rádio e sua integração no portal da Rede Brasil Atual estratégicos na luta pela democratização da informação. Temas como os riscos da Emenda 3, a epidemia dos acidentes de trabalho, o protagonismo das centrais nas marchas por aumento real de salário e redução da jornada são exemplos de um olhar diferenciado sobre os acontecimentos, em sua opinião. “Apontam um bom caminho para seguir e aprofundar”, diz.

Novos tempos

A maioria das mensagens de leitores manifesta o quanto a informação recebida faz diferença em sua vida. A professora Ana Rita Bueno, por exemplo, diz que aproveitava as reportagens para elaborar atividades educativas de jovens e adultos de que participava como voluntária, em São Bernardo do Campo. Para ela, “a RdB, além da variedade de informações, é muito prazerosa, com linguagem de fácil entendimento e sem amedrontar o leitor”.

O poeta e jornalista Luís Turiba, de Brasília, espantou-se com a capa da edição 33, com a rapper Flora Mattos. “Chamou a atenção a luz que vocês jogaram em cima de uma artista jovem e de grande potencial. Eis a diferença: ela está fora do mercado, mas tem o potencial de um Brasil que vai florescendo pelas margens. Ela é a cara do Brasil que está vindo, e a revista, nesse ponto, jogou luz neste novo Brasil. É uma revista dos novos tempos.” Turiba destacou a importância de a revista interagir “urgentemente com as novíssimas mídias, com um site ativo e uma rede de blogs”, como começa a acontecer agora com a Rede Brasil Atual.

Existe um oligopólio no mercado de revistas controlado por grupos empresariais com atuação e/ou interesses também na mídia eletrônica. Furar o bloqueio desse oligopólio é fundamental para a necessária pluralidade e diversidade na circulação da informação.
Venício A. de Lima, jornalista e sociólogo

A Revista do Brasil tem uma importância sem limites perante a grande palhaçada que muitos chamam de jornalismo. Ela me respeita como leitor, escritor e como cidadão em um país onde nenhuma dessas três palavras tem muito valor.
Ferréz, escritor

Hoje, quando a liberdade de imprensa pela qual ansiávamos na década de 1970 tornou-se praticamente sinônimo de liberdade de opinião dos donos das empresas de jornalismo e telecomunicações, a Revista do Brasil é condição de cidadania para milhares de leitores brasileiros. Augusto Boal dizia que cidadania não é viver em sociedade: é ser capaz de transformá-la; para isso, a informação honesta e consistente é ferramenta indispensável.
Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora

A Revista do Brasil é um importante veículo da esquerda e um marco na contraposição ao conservadorismo dos meios de comunicação do país. É fundamental para a democratização da informação, pois privilegia os segmentos da sociedade comumente marginalizados na mídia tradicional.
Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo

O Brasil precisa de novas fontes de informação. Torço para que novos veículos ocupem os espaços, não para que os antigos desapareçam, mas para que outras vozes entrem no debate político e disputem o espaço do poder da informação. A Revista do Brasil tem uma grande responsabilidade.
Paulo Betti, ator

A Revista do Brasil vem tendo papel crescente no embate com a manipulação e a exclusão implementadas pelos grandes meios de comunicação. Suas reportagens valorizam a defesa dos interesses nacionais, os movimentos sociais, a integração latino-americana, nossas riquezas naturais, nosso patrimônio cultural. A revista vem prestando um excelente serviço ao presente e às novas gerações.
Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação da CUT