Viagem

Templo da bola

Museu em pleno estádio do Maracanã guarda lances inesquecíveis, que merecem ser vistos até por quem não é apaixonado por futebol

Rodrigo Queiroz

A entrada do museu tem arquitetura futurista. Dentro, relíquias como o uniforme completo de Garrincha na seleção

Inaugurado em 11 de dezembro do ano passado, o Museu do Futebol em piso verde, para dar a sensação de gramado, e está instalado no lugar certo: dentro do estádio do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro. Tem para todos os gostos. Quer dizer, principalmente se seu time for do Rio.

Logo na entrada foram montados painéis para contar a história dos 100 anos de campeonato carioca, completados em 2006. Ali você fica sabendo, por exemplo, que existiu o Sport Club Mangueira, que não tem nada a ver com a famosa escola de samba carioca. Realmente, nem poderia: primeiro, porque o clube foi fechado antes que a verde-e-rosa começasse a desfilar, alguns anos mais tarde. Segundo, porque, ao contrário do glorioso reduto de Cartola e companhia, o time de futebol foi um dos grandes sacos de pancada da história. Em seus curtos 16 anos de vida, obteve 14 vitórias – menos de uma por ano. Empatou oito vezes e sofreu 96 derrotas, incluindo uma por 24 a 0 para o Botafogo, atual campeão estadual.

A grande estrela do acervo, dividido em oito setores, é a seleção brasileira. No museu são narradas as conquistas do, como se dizia antigamente, escrete canarinho.
Curiosamente, dos arquivos de jornal sobre as Copas do Mundo, que podem
ser consultados pelo público, não consta a notícia da derrota da seleção em julho
de 1950, para o Uruguai, em pleno Maracanã, construído para aquela Copa. Esquecimento? Seja como for, ali estão reunidas informações sobre os 18 Mundiais
disputados até hoje, desde 1930, cinco dos quais vencidos pelo Brasil. Embora
poucos, talvez, queiram lembrar do mais recente, ano passado, na Alemanha.

Nas extremidades de uma das salas, ficam as jóias da coroa: as chuteiras, a camisa
e o calção usados por Mané Garrincha na Copa de 1962, disputada no Chile,
quando o Brasil conquistou o bicampeonato mundial. Em contraste com a espartana
chuteira de Garrincha, bem perto estão modelos ultramodernos, como a
Predator usada pelo astro Kaká, jogador do Milan e da seleção.

Também está ali a homenagem ao lance que deu origem à expressão gol de placa,
feito por Pelé no Maracanã, em 5 de março de 1961. O Santos vencia o Fluminense
por 1 a 0 quando, aos 40 minutos do primeiro tempo, Pelé recebeu a bola na meia-lua de sua área e atravessou o campo conduzindo-a sem tomar conhecimento dos adversários nem do goleiro Castilho. A homenagem ao lance foi feita pelo jornal paulistano O Esporte, idéia de seu então repórter Joelmir Beting, que fazia a cobertura do jogo e, ao voltar para São Paulo, encomendou e bancou do próprio bolso a placa. No museu, repousa ainda a rede para onde Pelé mandou a bola ao marcar seu milésimo gol, em 1969, cobrando pênalti contra o Vasco da Gama, para desespero do goleiro Andrada, que chegou a tocar na bola – e, com raiva, socou o chão.

O visitante vai encontrar ainda depoimentos, vídeos, objetos, narrações, fotografias e informações sobre as origens e regras do esporte no Brasil e no mundo. Também pode se aventurar a jogar futebol de mesa ou pebolim – totó, para os cariocas. Alguns erros de informação verificados por um especialista levado pelo site GloboEsporte.com seriam corrigidos ainda em janeiro, segundo os responsáveis pelo museu.

Há uma galeria em que são homenageados 120 dos mais conhecidos jogadores
brasileiros. No final, fica um mural com frases de personalidades enaltecendo o Maracanã. A de Dunga, atual técnico da seleção brasileira, é tão original quanto econômica: “Um abraço”. Já o compositor e cantor Zeca Baleiro preferiu homenagear
o “templo da poesia do futebol”.

Estádios para a Copa de 2014 podemos ainda não ter, mas o museu já está pronto (São Paulo promete outro, para 2008). E vale a visita, até para quem não gosta.

Arquivos de áudio e vídeo

Bola dividida
O Museu do Futebol foi previsto para funcionar de segunda a domingo (menos em dias de jogos), das 9h às 17h. Mas está abrindo de segunda a sexta, das 10h às 16h. Quando tem jogo no meio da semana, mesmo que só à noite, fecha o dia todo. Antes de visitar, é melhor confirmar: (21) 2299-2936. A entrada é gratuita. O acesso pode ser de metrô, pela Estação Maracanã. Também dentro do estádio, em outra área, fica o hall da fama, com marcas de pés de astros do futebol. Está desatualizado – até janeiro, o painel informava, por exemplo, a morte de Telê Santana (em abril do ano passado).

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