resumo

Ousadia versus autoritarismo

Eduardo Knapp/Folha Imagem Alunos no Prédio da Reitoria, em maio. “Se a ocupação não tivesse ocorrido, a discussão não teria chegado à sociedade com a mesma intensidade”, avalia Maria Aparecida […]

Eduardo Knapp/Folha Imagem

Alunos no Prédio da Reitoria, em maio. “Se a ocupação não tivesse ocorrido, a discussão não teria chegado à sociedade com a mesma intensidade”, avalia Maria Aparecida de Aquino, do Departamento de História

A Secretaria de Ensino Superior criada pelo governador José Serra (PSDB) em seu primeiro dia de mandato é a cara de seu secretário, José Aristodemo Pinotti. Nos campi que entraram em ebulição neste maio, comenta-se que é o mesmo que foi reitor biônico da Unicamp, no início dos anos 80, indicado por Paulo Maluf: se é possível decretar, para que dialogar?

O decreto da secretaria e outros quatro que o governo inventou enterravam a autonomia das universidades paulistas, ao interferir em políticas de pesquisa, funções, administração de verbas e salarial. “Queremos, se não a revogação dos decretos, a negociação dos pontos mais importantes, que ferem a autonomia universitária”, diz João Zanetic, professor do Instituto de Física e vice-presidente da Associação dos Docentes da USP. No dia 31 de maio, o governo publicou no Diário Oficial novo texto, sob argumento de evitar o que chamou de “falhas de interpretação” dos decretos. Para não assumir nem que errou, nem que recuou.

Para Maria Aparecida de Aquino, do Departamento de História, a abusividade dos decretos anulava o Conselho de Reitores e as conquistas da grande greve de 1989, quando se alcançou a autonomia que vinha dando minimamente condições de gestão da vida universitária. A professora considera que as reivindicações envolvem a continuidade de um trabalho que faz da USP um centro de excelência. Ela observa que em 1969 entravam menos de 40 alunos em cada turma de sua unidade. Hoje, chegam a 130 de manhã e 150 à noite. “Não há como não ampliar o número de vagas, de professores e de moradias.”

O estudante de Jornalismo Rafael Freitas, 23 anos, que participou da ocupação, conta: “Teve semestre em que tive de ficar no corredor para tentar ouvir o professor”. Leandro Ferreira, 18 anos, acabou de ingressar no curso de Gestão de Políticas Públicas da USP Leste e não se sentia frustrado com a situação: “É bom que as pessoas se mexam para que os problemas não se perpetuem”.

Embora as reivindicações pareçam extensas, o que a comunidade acadêmica considera boa saída para a crise é simples: instalação de negociações com o governo, para assegurar a autonomia das universidades estaduais, e com os reitores, em busca das soluções específicas. Serra, que já tinha feito Pinotti secretário de Educação na prefeitura paulistana, só errou: com os decretos, a falta de discussão e a insensibilidade em lidar com a crise que ele mesmo provocou.

charge

Alternativa à Emenda 3

Em que pese a aparente desigualdade de condições, a reação das centrais sindicais equilibrou o jogo em torno da Emenda 3. Pesos pesados como Fiesp, OAB e grande mídia, Globo à frente, jogaram tudo para salvar a emenda – que dificulta a fiscalização de emprego fraudulento de mão-de-obra de pessoas jurídicas (PJs). Sindicatos e movimentos sociais contra-atacaram com seus instrumentos de comunicação e manifestações de protesto. A entrevista do deputado Milton Monti (PMDB-SP) ao site Repórter Brasil (www.reporterbrasil.org.br) é sinal disso. Monti, relator de um texto alternativo à Emenda 3, informa que solicitou a retirada da urgência na discussão do tema e que a sociedade seja ouvida na elaboração do substitutivo. A conclusão da redação deve sair antes do recesso de julho (sim, ele ainda existe).

Novidades no ar

Treze rádios comunitárias da região metropolitana de Campinas e Hortolândia (SP) passaram a transmitir o Jornal dos Trabalhadores, da Rádio 9 de Julho (1600 AM). O programa, às 7h, tem notícias do dia-a-dia, de economia, política e cultura, com enfoques diferentes da mídia comercial. A integração é iniciativa de vários sindicatos (leia no verso da capa desta edição a sintonia das emissoras). “Acusadas pelos tubarões da mídia de interferir em transmissões de aeroportos e viaturas, as rádios comunitárias praticam um código de ética: são públicas, laicas, culturais e participativas das comunidades”, diz Jerry de Oliveira, da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço).

Navalha na liga

O ministro Gilmar Mendes (foto), ex-advogado-geral da União de FHC e vice-presidente do STF, vê o Poder Judiciário “intimidado”. Ele se refere à Operação Navalha, que estourou em seguida à Furacão, aquela que botou magistrados na berlinda. Mendes relatou pedidos de habeas corpus concedidos pelo STF a autoridades preventivamente presas pela PF. Aliás, já está todo mundo solto. Em que pese ter sua atuação contestada – e de estar sendo ela própria investigada por supostos abusos –, a PF desmantelou uma quadrilha que operaria fraudes em licitações para obras públicas e mais uma vez gente graúda está no olho do furacão. Gilmar Mendes criticou vazamentos, mas ele próprio divulgou informações sob segredo de Justiça para negar que seu nome estivesse na lista da construtora Gautama.

O público e o privado

O desempenho de Renan Calheiros (foto), PMDB-AL, em sua defesa na tribuna do Senado, dia 28 de maio, arrancou aplausos dos colegas e veneno dos colunistas. Mino Carta disparou: “Calheiros evocou Cícero para condenar quem o acusa. Segundo Calheiros, Roma republicana ostentava inscrições destinadas a amedrontar o Senado… Vale dizer que o Senado romano em inúmeras oportunidades provou ser povoado por adúlteros, assassinos e ladrões, e o Senado brasileiro é uma boa imitação daquele…” A propósito, o levante de assuntos íntimos, pessoais e familiares em batalhas políticas é repugnante. Isso vale para Calheiros como para o ex-presidente da República cujo filho vive em Barcelona com a mãe, jornalista. Mas de que bolso sai a pensão alimentícia – senão do do pai – pode vir a ser, sim, de interesse público.

No fim do túnel

A grita mundial por eficiência energética já ameaça de extinção as lâmpadas incandescentes (aquelas com um fiozinho interior que esquenta) por fluorescentes (as “frias”, que venderam bem na época do apagão de FHC). Antes tarde. Austrália (até 2010) e Canadá (até 2012) já decidiram livrar-se das incandescentes, 300% mais gastadeiras. De acordo com Earth Policy Institute (www.earth-policy.org), se o mundo todo fizesse a troca, economizaria 135 mil MW, suficientes para fechar centenas de usinas termelétricas – aquelas movidas a combustíveis que, mais que as lâmpadas, aquecem o planeta.