Carta ao Leitor

Momento de evoluir

paulo pepe Centrais sindicais estão coletando assinaturas pela redução constitucional da jornada O mundo do trabalho voltou a ser pauta incômoda para as entidades empresariais. Quatro fatos deixaram nervosos a […]

paulo pepe

Centrais sindicais estão coletando assinaturas pela redução constitucional da jornada

O mundo do trabalho voltou a ser pauta incômoda para as entidades empresariais. Quatro fatos deixaram nervosos a Fiesp, jornalistas econômicos e empresários da mídia: 1) o abaixo-assinado das centrais sindicais para que o Congresso Nacional aprove a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário; 2) o envio de uma Medida Provisória do presidente Lula para que o Brasil assine a Convenção 158 da OIT; 3) um projeto de lei do deputado federal Vicentinho que sugere regras para as terceirizações; e 4) uma ação do Ministério Público do Trabalho contra a Elektro, empresa de energia elétrica, por infringir a lei ao contratar serviços terceirizados para executar atividades-fim. Tudo isso é parte de um caminho constitucional, legítimo dentro de um Estado de direito, e com debate público no Parlamento. As centrais enxergam na redução da jornada uma forma de gerar empregos e melhorar a qualidade de vida e da produtividade; o presidente Lula quer que o país respeite uma convenção internacional; o parlamentar quer uma lei que contenha abusos nas terceirizações; e um procurador, limites aos abusos perante leis já existentes.

A reação parece orquestrada por um núcleo estratégico dentro da Fiesp. A revista Exame qualificou as propostas como “na contramão do crescimento”. A Folha fez eco em editorial e o Estadão em sua manchete. A “série” havia começado na semana passada, no Jornal Nacional. Em entrevista ao programa Brasil Atual (7h da manhã, na 94,1 FM, Grande São Paulo), o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, sintetizou o pensamento da reação com uma análise surrada, segundo a qual as medidas propostas provocariam perdas de produtividade, dificuldades de crescimento e seriam ruins para os próprios trabalhadores. Argumento típico do setor há décadas. Mas o Brasil passa pelo seu melhor momento econômico. O desemprego cai seguidamente, a ciência e as inovações tecnológicas promovem ganhos de produtividade, a cada dia surgem novos mi e bilionários. As reivindicações nada mais são que um meio de redistribuir parte dos ganhos de produtividade já gerados, com mais empregos e menos desigualdade social. Tudo isso pode se traduzir em retorno para o mercado consumidor e para o crescimento do país. Com um pouco mais de justiça do que nas últimas décadas, quando apenas uma fatia minguada se apropriava das riquezas que somos capazes de gerar.