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Mirna, 14, joia rara

Lucas Mamede Mirna, deseja ser engenheira Antonio, soldador, e Dilce, confeiteira, moram em Sertãozinho, interior de São Paulo. Há dois anos o casal reside com mais de cem famílias no […]

Lucas Mamede

Mirna, deseja ser engenheira

Antonio, soldador, e Dilce, confeiteira, moram em Sertãozinho, interior de São Paulo. Há dois anos o casal reside com mais de cem famílias no assentamento sem-teto que ocupa um antigo galpão do INSS e vai virar moradia popular. Desempregados, vivem de “bicos”. “Ou a gente voltava pra nossa terra no Maranhão, ou ficava aqui”, explica Dilce, que apesar do sufoco está animada com tempos melhores. Um dos motivos é Mirna, 14 anos, uma das filhas, de voz doce e fala articulada, que levanta às 5h30 da manhã para tomar o ônibus às 6h20 até a escola estadual onde cursa a 8ª série. “Sempre foi muito estudiosa e esforçada. Quer ser engenheira mecatrônica”, diz a mãe, que ficou surpresa com o desejo da filha.

Mirna representou São Paulo na III Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente em Brasília, em 2008. Antes foi preciso vencer centenas de adolescentes na seleção regional e estadual com dois projetos: a horta comunitária e a casa de caixas de leite. A horta reverte parte da produção para a merenda escolar e outra para a comercialização na comunidade. Já a casa abriga uma sala de jogos de ciências e matemática. “São dois projetos coletivos, mas fui a selecionada para representar e fiquei muito feliz”, revela.

Em 2006, recebeu menção honrosa na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas do Estado de São Paulo, comemorada ao som de violino e trompete, que também toca com desenvoltura. No computador que ganhou para os estudos falta o acesso à internet. “Faço os trabalhos na lan house e não dá pra ir sempre. Não importa de onde você veio, tem que fazer para merecer. Vou ser engenheira.”