Letras e vozes femininas

O programa ABCD em Revista, da TVT, foi à periferia de São Paulo entrevistar escritoras que lutam por uma sociedade mais igualitária

Tula Pilar lembra de ouvir das patroas, quando criança: “Para que essa empregadinha lê tanto, nem vai precisar” (Foto: TVT)

Elizandra Souza é moradora do Grajaú, no extremo sul da capital paulista, e poeta. Seu livro Águas da Cabaça reúne poemas inspirados na mulher negra. Tudo em Elizandra tem um significado. Seu apelido, Mijba, remete a uma guerreira africana, as tatuagens tribais representam forças da natureza e os dreadlocks, mais que um simples penteado, são referências ancestrais carregadas de orgulho. Elizandra tem 29 anos e frequenta as rodas de literatura das periferias da cidade desde a adolescência. Na cultura hip-hop e nos saraus descobriu que podia mudar o mundo ao seu redor. 

Quem já mudou a própria realidade sabe o poder transformador da perseverança. Tula Ferreira, de Taboão da Serra, conta que veio de Minas Gerais, onde desde muito cedo trabalhava em casas de famílias ricas. Sempre com um sorriso no rosto, lembra que ainda criança se encantou com os muitos livros nas estantes, deixava o trabalho de lado e mergulhava neles. As patroas ralhavam: “Para que essa empregadinha lê tanto, nem vai precisar”. Tula lia de tudo. Um dia começou a escrever. A vida de empregada doméstica foi deixada para trás. Participou de saraus e seus poemas viraram o livreto Palavras Inacadêmicas, uma crítica à formalidade da academia. Tula é artista forjada pelas dificuldades, passou fome, lutou para educar os filhos. Há anos, em bancos de ônibus ou nas madrugadas em casa, escreve sua vida – a publicação será mais um sonho a se tornar realidade. 

“Branca de neve está fora das estatísticas, não possui CPF nem RG , tem 12 anos e não sabe ler, mas conhece muito bem as palavras agressão, abuso e violência sexual.” O texto é da escritora Lunna, militante do movimento hip-hop, ativista dos direitos das mulheres e reveladora de talentos. Lunna organizou uma oficina de literatura e descobriu nos quatro cantos do país mulheres literatas. O resultado foi o livro Perifeminas, uma coletânea com 63 escritoras da periferia de 11 estados. 

Esmeralda Ribeiro escolheu o Centro Cultural da Juventude na Vila Nova Cachoeirinha para falar sobre sua trajetória. Jornalista, coordenadora do Coletivo Quilombhoje, é organizadora da publicação Cadernos Negros, com foco no lançamento de novos escritores. Em seu livro Orokume, “meu nome”, ela dá vida a um garoto curioso por saber sobre suas raízes.

A íntegra do ABCD em Revista e as histórias dessas mulheres pode ser vista na internet: http://bit.ly/tvt_escritoras