Atitude

Jeito solidário de fazer renda

Roberto Parizotti Albertina Roque de Holanda segue à risca a tradição das mulheres nordestinas dedicadas à renda de bilro, arte passada de geração a geração desde o século 18. Ela […]

Roberto Parizotti

Albertina Roque de Holanda segue à risca a tradição das mulheres nordestinas dedicadas à renda de bilro, arte passada de geração a geração desde o século 18. Ela nasceu há 77 anos em Mundaú, cidade de 8 mil habitantes no litoral oeste do Ceará, a 150 quilômetros de Fortaleza. Aprendeu a arte do bilro aos 7, com a mãe e a irmã mais velha. Casou-se ainda jovem e o destino pregou-lhe uma peça: teve um único filho. Homem. Se lá as mulheres fazem renda e os homens pescam, como passar adiante a missão de ensinar? “Onde tiver menina que queira aprender, eu ensino”, afirma. “Não largo minha ‘almofada’. Em casa, faço meu trabalho até quando cozinho. Boto as panelas no fogo e vou tecendo.”

Com as colegas de ofício, Albertina criou a Associação das Rendeiras de Mundaú para que sua produção – toalhas, colchas, roupas – tivesse mais chances de alcançar mercados e ser valorizada. E assim o trabalho das rendeiras de Mundaú chegou às passarelas e ao mundo fashion. Foi no Desfile Conexão Solidária, em outubro, em São Paulo, que mostrou ao mundo da moda produtos com a marca da economia solidária. Albertina e suas colegas juntaram-se às modelos e compuseram a graça da passarela. “Nunca eu tinha passado alguma coisa nos beiços. Eles me maquiaram para eu desfilar”, recorda. A dedicação rendeira é, segundo Albertina, sinônimo do amor que tem por seu ofício. “O bilro é minha vida.”

O desfile fez parte da 1ª Mostra Nacional de Comercialização de Produtos e Serviços da Economia Solidária. Organizado pela Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS) da CUT, o evento durou quatro dias e apresentou a empresários do comércio a qualidade e a diversidade de 170 empreendimentos coletivos nas mais diversas áreas. Estima-se que a partir dali sejam gerados negócios de R$ 2 milhões no próximo ano. A ADS deve ainda inaugurar, em breve, uma central permanente de negociação, no bairro paulistano do Belenzinho.