Resumo

Guerra no rush

Mauricio Morais Luiz: bala de borracha Alguns manifestantes contra a visita do presidente norte-americano George W. Bush, em pleno Dia Internacional da Mulher, podiam não saber por que batiam. “Nem […]

Mauricio Morais

Luiz: bala de borracha

Alguns manifestantes contra a visita do presidente norte-americano George W. Bush, em pleno Dia Internacional da Mulher, podiam não saber por que batiam. “Nem sei o que estou fazendo aqui. Minhas amigas passaram em casa e vim junto. Estou achando da hora”, dizia a estudante Vanessa de Morais, 20 anos. Mas Bush devia saber por que apanhava. “Não podia ficar quieto. Fico feliz em ver os jovens dizendo que ele não é bem-vindo”, afirmava o palhaço Fábio dos Santos. Do carro de som, a representante da Marcha Mundial das Mulheres bradava: “O imperialismo é tio do machismo. Fora, Bush!” Uma missionária presbiteriana, do interior de Nova York, observava, num português arrastado: “Não gosto do senhor Bush, ele só veio atrapalhar o trânsito. O estudante Luiz Vieira de Souza, 22 anos, mostrava a perna ferida: “A PM pôs em risco a integridade das pessoas”.

Águas de março

O mês foi animado. Nos dias que se seguiram para fechar o primeiro verão do segundo mandato, Lula iria chamar usineiros de heróis. Receberia o senador Collor de Mello, na data em que cancelou a ida a um ato da Secretaria da Igualdade Racial – 21 de março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Para fechar a tormenta, às vésperas do 31 de março e enquanto explodia nova crise aérea, o presidente estaria nos EUA para reafirmar “compromissos de cooperação bilateral, baseada em valores compartilhados nos planos da democracia, dos direitos humanos, da diversidade cultural, da liberalização do comércio, da proteção do meio ambiente, da defesa da paz e da segurança internacionais e da promoção do desenvolvimento com justiça social”, como dizia a nota oficial divulgada junto com ele, Bush, aquele do rush.

Desafios de abril

Além de torcer para que a negociação da crise aérea comece a trazer resultados rápidos, o governo terá de ser criativo para aparar arestas com um setor vital tanto no trato da segurança pública como em operações de combate a fraudes, corrupção, crimes ambientais e trabalho escravo: a Polícia Federal, que deve acirrar a pressão por pendências salariais. Os agentes teriam recebido até agora metade dos 60% prometidos há um ano pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Desatar os nós da Emenda 3, da crise aérea, da PF e ainda das manifestações do “Abril Vermelho”, anunciadas pelos movimentos sociais, estão no amargo cardápio do mês.

ECA em quadrinhos

O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo e a Fundação Projeto Travessia, que realiza trabalho com meninos e meninas em situação de risco nas ruas da capital, estão trabalhando com mais uma ferramenta com a finalidade de popularizar o Estatuto da Criança e do Adolescente. 

Os gibis do personagem Descolado, do cartunista Edson Pelicer, discutem de maneira didática e arejada direitos e cidadania. Quem quiser conhecer o trabalho, fazer pedidos e sugestões pode contatar [email protected].

Acertos a calhar

Em meio às esquisitices da agenda, Lula colheu acertos. Um deles, o veto à Emenda 3, que impediria a fiscalização de autuar empresa que contrata pessoa jurídica com quem mantém relação patrão–empregado. Outro, a determinação de que em vez de confronto, em resposta ao motim dos controladores de vôo militares, fosse aberto processo efetivo de negociação. No primeiro caso, o governo constrói projeto alternativo para evitar que o veto à Emenda 3 vá a voto, gerando desgastes na recém-costurada base “aliada”. No caso aéreo, ainda que a decisão tenha suscitado crise com o comando militar, não havia alternativa. Por linhas tortas, foram dados passos definitivos para, enfim, mexer com a estrutura do monitoramento do tráfego aéreo.

Greenpeace X Greenpeace

O Greenpeace estacionou um “calhambeque nuclear” em frente ao Palácio do Planalto, no último dia 27 de março, para protestar contra a possível retomada, pelo governo, da construção da usina nuclear de Angra 3. “É possível imaginar alguém em sã consciência oferecendo uma fortuna por ele (o carro velho, inseguro, poluente e desnecessário)? Pois o governo brasileiro pode gastar bilhões de reais em algo muito parecido”, diz o site da ONG. No mesmo dia, Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que “a resistência dos ambientalistas à energia nuclear é motivada por uma mentalidade típica da Guerra Fria” e que, se o mundo quer reduzir o consumo de combustíveis fósseis, precisa de “um programa agressivo de energias renováveis combinado à energia nuclear”.

A causa de Timóteo

Do vereador Agnaldo Timóteo (PFL), em discurso recente na Câmara Municipal de São Paulo, sobre a prioridade declarada por Marta Suplicy de combater o turismo sexual: “Pelo amor de Deus, vai prender um turista que levou pro motel uma menina de 16 anos? As meninas com um popozão e os peitos desse tamanho, rodando bolsinha na rua, aí o turista passa a ripa. Tenha piedade!” No dia seguinte, ele tentou consertar: “Houve uma repercussão desnecessária. Não defendi, nem defenderei, o turismo sexual. O que acho absurdo é prender um homem por ter ido para a cama com uma menina de 16 anos que estava rodando bolsinha em qualquer lugar”. Ah, bom.

Carta Maior continua no ar

A equipe da Carta Maior vai manter o portal, apesar de a forte crise financeira tê-lo posto na iminência de parar – risco este, aliás, que paira sobre toda a imprensa alternativa do país. Os profissionais que tocam a agência decidiram resistir no projeto, no qual apostam também como cidadãos desde 2001. O grande volume de manifestações de apoio nas últimas semanas reacendeu perspectivas de patrocínio e publicidade. A página tem centenas de milhares de visitas/mês. Para o editor-chefe, Flávio Aguiar, o pedido de cadastro – pelo site www.cartamaior.com.br – é uma boa forma de os leitores fortalecerem a audiência e a atratividade. “Também o poder público, se estiver efetivamente preocupado com a democratização do acesso à informação, precisa estipular critérios justos de distribuição de verbas publicitárias que viabilizem os veículos alternativos e populares, sem os quais não há democracia”, diz Aguiar.