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Essa doutora não pára

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem Primeira índia brasileira a conquistar o título de doutora, Maria das Dores de Oliveira, 42 anos, prefere ser Maria Pankararu. É um dos modos de valorizar […]

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

Primeira índia brasileira a conquistar o título de doutora, Maria das Dores de Oliveira, 42 anos, prefere ser Maria Pankararu. É um dos modos de valorizar sua identidade étnica. Seu título acadêmico também está associado à causa indígena: ela luta para salvar da extinção a língua dos Ofayé, tribo de Brasilândia (MS), com 46 índios e apenas 11 deles falantes de seu dialeto natural. Maria tomou a causa como tema de sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal de Alagoas. A defesa da tese foi feita no dia 19 de abril deste ano e o resultado de seu trabalho vai além do ambiente acadêmico. Em parceria com a professora de Ofayé Marilda de Sousa, Maria elaborou uma cartilha para alfabetizar as crianças da tribo e desenvolve um dicionário ofayé-português/português-ofayé.

Para fugir da miséria e da seca, sua família fez várias idas e vindas para São Paulo, sem nunca se desligar de suas raízes. Maria sempre foi incentivada pelos pais a estudar. Andava mais de duas horas de sua tribo, Brejo dos Padres, em Tacaratu (PE), até a escola. “Além de uma conquista pessoal, o título de doutora é uma vitória para o povo Ofayé e indígena em geral. É como se eu fosse a prova viva de que nós índios somos capazes. Conhecimento é a coisa mais importante para a humanidade. Por isso eu não quero parar, vou continuar a estudar”, garante a doutora Pankararu.