Por um lugar na agenda

Grandes temas nacionais, de interesse dos trabalhadores a mudanças para aprimorar a democracia, dependem de um legislativo que não representa, de fato, a maioria

A imprensa oposicionista passou o ano tentando separar Dilma de Lula, enaltecendo supostas diferenças. Ele, bom de política e tolerante com as denúncias. Ela, boa gestora e implacável na “faxina”. A intenção é atribuir atos da Presidência à pessoa do chefe do Executivo, e não a um ideário político. Típico de uma oposição sem projeto e sem estofo para batucar outra tecla que não a da espetacularização das denúncias e da política – que, para alguns pauteiros, não é meio de buscar o bem da coletividade, mas de ajeitar a vida de alguns. A presidenta não perdeu a pose nem brigou com a mídia. Ao contrário, afagou-a.

Nem por isso deixou-se pautar. E reiterou que um projeto maior, de uma nação prestes a se posicionar entre as mais ricas do mundo, passa pela radicalização do combate à miséria. De Antonio Palocci a Carlos Lupi, Dilma agiu com prudência e deu direito de defesa. Quando o custo do desgaste subia ao insuportável, vinha a queda, independentemente de as denúncias se comprovarem. A maioria, aliás, desaparecia do noticiário – um atestado de interesse exclusivo no desgaste, e não na “moralidade”. Fulminante a presidenta foi com Nelson Jobim, da Defesa, depois de ter sua autoridade desafiada.

Na política externa, o Brasil manteve a linha de cobrar dos países ricos soluções para o que as crises causaram ao mundo. Privilegiou o diálogo com os emergentes e parceiros do continente e enalteceu o papel do Estado na redução das desigualdades. Internamente, a economia saiu de um crescimento espetacular em 2010 para um desempenho medíocre este ano. Com inflação controlada, emprego estável e ameaça de redução da atividade, o governo volta a estimular o crescimento.

O mesmo êxito não se alcançou no desenrolar da agenda política. A Comissão da Verdade recém-criada não inspira confiança de que possa identificar e punir criminosos da ditadura. Questões caras ao movimento sindical estacionaram, como a reforma tributária. Em parte, esses temas permanecem amarrados porque a correlação de forças no Congresso permanece desigual. E a tão necessária reforma política, capaz de diminuir a influência do poder econômico e do coronelismo nos processos eleitorais, também não andou. Empacou, ainda, o projeto de regulação dos meios de comunicação.

Assim, 2011 termina, para os movimentos sociais, com o desafio de qualificar suas ações no próximo ano para disputar um espaço mais efetivo na agenda dos poderes e na definição dos rumos do país. Feliz 2012.