ambiente

Consciente, desinformado ou folgado?

O clima esquenta e o mundo está preocupado com o futuro do planeta – e com razão. Mas muita gente ainda ignora pequenos gestos que poderiam proteger agora o ambiente em que vive. Que tipo de pessoa você é?

Paulo Pepe

Jogar lixo na calçada, arremessar lata pela janela do carro e empurrar sujeira com água tratada são crimes praticados cotidianamente contra o meio ambiente

O noticiário sobre a situação do planeta anda dramático. O clima vai esquentar, a água acabará, os mares vão subir, a atmosfera ficará cinza, rios secarão, mais gente terá fome. As projeções para um futuro não muito distante – talvez daqui um século, quem sabe 50 anos ou menos – são sombrias. Estudos alertam quanto ao que empresas e governos precisam fazer para retardar ao máximo esse processo de deterioração da vida e a questão ambiental nunca esteve tão presente no noticiário e de forma tão preocupante.

Mas, enquanto se buscam novas estratégias de conduta para evitar a catástrofe futura, o ser humano bem que podia se tocar de que a vidinha que segue ao seu redor também faz parte desse tal de meio ambiente. Embora a consciência socioambiental esteja em alta, ainda existe muita gente de índole poluída que podia tornar o mundo muito melhor – hoje – com pouco esforço.

Por exemplo, ao verificar se o móvel que está comprando é de madeira certificada, você ajuda a combater o desmatamento. Ao diminuir o consumo de carne vermelha, colabora com a preservação do “pulmão” do planeta – segundo o Banco Mundial, a pecuária foi a maior responsável pelo desmatamento da região amazônica. Ao deixar o carro na garagem um dia por semana, ajuda a diminuir a emissão de gases poluentes e o efeito estufa. Se não joga no ralo o óleo com que fritou o bolinho, deixa de poluir lençóis freáticos e áreas de manancial. Se escova os dentes com a torneira fechada, consome menos de meio litro de água, em vez de 13 litros. O Brasil, aliás, é um dos campeões mundiais no desperdício de água. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 120 litros de água são suficientes para o consumo diário de uma pessoa – no Brasil, a média é de 200.

Segundo pesquisa realizada pelo Vox Populi em março, os brasileiros até estão preocupados com o meio ambiente, mas ainda relacionam o assunto a temas grandiosos como o aquecimento global e o derretimento das geleiras, e não necessariamente a pequenas coisas do dia-a-dia. Como deixar a TV ligada à toa, comprar e preparar alimentos em excesso e depois jogar fora, lavar calçada com mangueira, jogar bituca de cigarro, pacote de salgadinho e latinha de bebida pela janela do carro, botar no lixo comum a latinha de molho de tomate ou o pacote de macarrão, que podem ser reciclados.

A pesquisa revelou que, embora os entrevistados indiquem entre os “principais problemas de seu bairro” falta de rede de esgoto e saneamento básico, de coleta de lixo, de água e de tratamento – tudo ligado a questões ambientais –, apenas 14% dos brasileiros acreditam que exista problema ambiental no Brasil. Um caso grave de desinformação? Ou de semancol? Sim, governos precisam tomar atitudes, empresas também. “Mas devemos ser os primeiros, e não os últimos, a mudar nossos hábitos”, alerta Aron Belinky, gerente de Pesquisas e Métricas do Instituto Akatu, organização sem fins lucrativos voltada à educação para o consumo consciente.

Quando o assunto é reciclagem, por exemplo, um em cada três brasileiros está atento. É um número considerável e que tende a crescer, pois o país tem uma característica peculiar: a atividade entrou na cadeia produtiva da economia nacional. A reciclagem também marca presença nas duas pontas do processo de consumo: evita a demanda de novos recursos naturais e o descarte de material no meio ambiente.

No Brasil, por suas dimensões continentais, o assunto lixo é igualmente grandioso. Existem 8 mil locais onde o lixo é depositado de forma inadequada, contaminando solo e lençóis freáticos. Pesquisa realizada no fim de 2004 mostrou que, dos 53 milhões de toneladas de resíduos industriais gerados no Brasil, apenas 3 milhões foram tratados e quase 100% dos aterros sanitários estão no final de sua vida útil. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

Das 5.560 cidades brasileiras, cerca de 240 fazem a coleta seletiva. Cada brasileiro gera por dia, em média, 750 gramas de lixo. Só a cidade de São Paulo soma mais de 12 mil toneladas diárias. Cerca de um terço de todo o lixo produzido no país tem origem doméstica. Ou seja, está em casa boa parte da redução dos resíduos que empesteiam o ambiente.

lixo

Simplicidade ignorada

O Instituto Akatu elaborou o conceito dos “quatro Rs” para minimização de resíduos. Repensar os atos de consumo; Reduzir: consumir apenas o necessário e evitar a geração de lixo; Reutilizar: aumentar a vida útil dos produtos e materiais; e Reciclar: separar tudo o que pode ser reaproveitado. São coisas simples, mas ainda tem gente que não as pratica.

Pesquisas realizadas a partir de testes aplicados pelo instituto indicaram que 8% das pessoas avaliadas estão muito pouco atentas às questões como consumo consciente, enquanto 59% adotam algumas posturas corretas apenas em função de economia doméstica, sem levar em conta o impacto ambiental. Outros 28% são engajados – pensam em economia, exigem notas fiscais, lêem rótulos dos produtos a serem adquiridos, checam o perfil dos fabricantes, entre outros aspectos. E apenas 5% formam o grupo dos “conscientes”, aqueles que têm total conhecimento do impacto de seu consumo e de suas atitudes sobre o meio ambiente, a economia e a sociedade.

Uma característica do grupo dos conscientes é a atitude do “reforço positivo”: ajudar a disseminar informações. Por exemplo, só compram produtos de empresas socialmente responsáveis, falam bem das que estão atentas ao assunto e alertam outras pessoas sobre as que não estão. Vários estudos realizados pelo Akatu levam a uma conclusão de que o brasileiro tem consciência ambiental, mas sofre de uma preguiça “macunaímica” de se mexer. “Falta envolvimento. Acredito que isso tenha relação direta com a descrença quanto à nossa capacidade de provocar mudanças. Mas sabemos que é o cidadão quem poderá resolver o nó da responsabilidade social em todos os sentidos”, diz Belinky.

Teste do consumo consciente
Responda às perguntas e descubra que tipo de consumidor você é

Evito deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Fecho a torneira enquanto escovo os dentes
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Desligo aparelhos eletrônicos que não estão sendo usados
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Costumo planejar as compras de alimentos
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Costumo pedir nota fiscal quando faço compras
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Costumo planejar compra de roupas
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Costumo usar o verso de folhas de papel já utilizadas
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Costumo ler o rótulo atentamente antes de decidir uma compra
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

A família separa o lixo para reciclagem (lata, papel, vidro, PET, garrafas)
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Espero os alimentos esfriarem antes de guardá-los na geladeira
1. Sempre
2. Às vezes
3. Raramente ou nunca

Comprei produtos feitos com material reciclado nos últimos 6 meses
1. Sim
2. Não
3. Não sei

Comprei produtos orgânicos nos últimos 6 meses (por exemplo: alimentos sem agrotóxicos, carne sem hormônios ou antibióticos)
1. Sim
2. Não
3. Não sei

Procuro passar ao maior número possível de pessoas as informações que obtenho sobre empresas e produtos
1. Sim
2. Não
3. Não Sei

reciclagem

Conte quantas vezes você escolheu a opção 1
De 11 a 13 – CONSCIENTE: você já age considerando que as conseqüências de seus atos afetam não só a você, mas também toda a coletividade e até as futuras gerações.

De 8 a 10 – ENGAJADO: você já percebeu que o consumo consciente não é só uma maneira de economizar recursos.

De 3 a 7 – INICIANTE: lembre-se de que suas ações afetam a todos e leve em conta os efeitos de seus atos sobre a sociedade.

De 0 a 2 – INDIFERENTE: na hora de consumir você não leva em conta sequer evitar desperdícios que trazem benefícios diretos para você e para o seu bolso.