Carta ao Leitor

Cipó de aroeira

Marcello Casal JR/ABr Alheio à ascensão das classes C e D ao mercado de consumo, o PIG força o debate eleitoral Em tempos de lembrar 1968, cai bem um verso […]

Marcello Casal JR/ABr

Alheio à ascensão das classes C e D ao mercado de consumo, o PIG força o debate eleitoral

Em tempos de lembrar 1968, cai bem um verso de Geraldo Vandré que se referia a um “dia que já vem vindo, que este mundo vai virar”… Está na canção Aroeira, do disco Canto Geral, lançado naquele ano de contestações. E encaixa bem nos resultados colhidos por setores da imprensa comercial em relação ao governo Lula: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”. Afinal, tratado com preconceito e grosserias, Lula apanha sem dó, mas ele e seu governo são recordistas de popularidade. Uma dor no pescoço recebe o título “carne de pescoço”; a tradução para a ida de qualquer militante a Brasília é envolvimento em negociata; nas páginas desses veículos, é o governo mais corrupto e desastroso da história.

Fazem por merecer a sigla PIG – Partido da Imprensa Golpista –, criada pelo deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) e adotada por Paulo Henrique Amorim. O foco num “terceiro mandato” é outro exemplo da “linha burra” ensaiada por esses veículos. Mesmo com Lula negando veementemente a idéia de nova reeleição e, ainda, apresentando a ministra Dilma Rousseff como possível candidata em 2010; mesmo com alguns petistas discutindo possibilidades de Ciro Gomes a Aécio Neves, esses veículos abordam o terceiro mandato de forma espalhafatosa para fritar antecipadamente a idéia. Forçam o debate, obrigam as pessoas a se posicionar e novamente colhem resultado amargo, como o apoio à re-reeleição de mais da metade dos entrevistados da recente pesquisa CNT/Sensus.

O PIG é incapaz de compreender e aceitar que o desenvolvimento do Brasil no atual governo ocorre principalmente pela inclusão social das classes C e D e briga por assegurar um espaço perante a classe média. Alimenta seus leitores com ódio e tenta atacar-lhes a auto-estima para gerar sentimentos como medo, opressão, revolta, que em outros momentos da história levaram a resultados desastrosos. Em vez de participar com idéias, debates e informação de qualidade na construção de uma nova história, em direção a uma sociedade mais justa e solidária (como acontece na África do Sul e relata Bernardo Kucinski nesta edição), tenta virar a história ao avesso, no intuito de retrocedê-la.