rádio

Cantos do Trabalho

Kiyoe Iizuk/Divulgação Cia. Cabelo de Maria “Sou lavrador/ homem da roça/ vivo cansado, meu Deus, com a mão grossa/ Planto batata/ Planto batatinha/ Eu raspo mandioca e faço farinha.” Esse […]

Kiyoe Iizuk/Divulgação

Cia. Cabelo de Maria

“Sou lavrador/ homem da roça/ vivo cansado, meu Deus, com a mão grossa/ Planto batata/ Planto batatinha/ Eu raspo mandioca e faço farinha.” Esse trecho da música Sou Lavrador faz parte do CD Cantos de Trabalho, resultado de uma ampla pesquisa de Renata Mattar, cantora e pesquisadora da Cia.

Cabelo de Maria, que participou da Sexta Musical do Jornal Brasil Atual, no dia 8 de maio. No bate-papo com o apresentador Osvaldo Colibri Vitta, Renata e Gustavo Finkler, responsável pela direção musical e arranjos do disco, contaram que o foco são os “trabalhadores rurais”, mas que existe um imenso material a ser explorado pelo Brasil, como os cantos de pescadores e índios.

Renata pesquisa o tema há 10 anos e durante suas viagens registrou as canções. As vozes foram captadas principalmente nos estados da Bahia, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais. Daí surgiu o disco, em parceria com Lucilene Silva, também cantora e pesquisadora.

A simplicidade e a beleza das composições são produtos genuínos do povo trabalhador, cantigas entoadas enquanto desenvolvem suas atividades. “Esses cantos levam a outro estado de espírito na lida de um trabalho cansativo e que leva horas”, explicou Renata. “É uma forma de comunicação entre as companheiras, para falar do dia-a-dia, de amor, de coisas engraçadas ou tristes”, disse.

É o caso da música Semente de Mandioca. As mulheres a entoam quando têm o mutirão da raspagem da mandioca, na comunidade de Barreiras, em Barrocas, Bahia. Além de Barreiras, as cantigas vêm das plantadeiras de arroz de Propriá (SE), da colheita de cacau de Xique-Xique (BA), da bata do feijão de Serrinha (BA) e das fiandeiras de algodão do Vale do Jequitinhonha (MG). “As destaladeiras de fumo de Arapiraca que vieram ao palco durante o lançamento em São Paulo ouviram e gostaram muito”, contou Gustavo.

As melodias ficam na memória e impressionam grandes compositores. Quando Tom Zé era criança subiu numa colina e do alto observou lavadeiras cantando. “Ele teve uma sensação tão forte que quando compõe suas músicas tenta chegar naquele estado e reviver aquela experiência da infância”, relatou o produtor.

O disco conta também com a participação especial da cantora Ceumar e pode ser adquirido nas unidades do Sesc, apoiador do projeto, ou na sua loja virtual na internet, por R$ 15. De acordo com Renata, em breve o projeto Cantos do Trabalho terá um site com muito material inédito.