Retrato

Até a última lasca

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Se árvores também morrem, por que não fazer móveis a partir desses troncos, em vez de derrubar mais? Com essa percepção, o artesão Roque Pereira virou referência no mundo ambientalista ao promover a partir de Pirenópolis (GO) uma movelaria sustentável. Ele já foi tema de filme premiado, do fotógrafo e cineasta Kim-ir-Sen Pires Leal, e citado em livro do jornalista André Trigueiro. O trabalho começou há 13 anos com troncos retorcidos, madeiras mortas, carcomidas, desprezadas pela indústria, e chocou pelos formatos inusitados. “Desde pequeno admirava as formas das árvores. Enquanto transformavam tudo naqueles ‘trem quadrado’, resolvi fazer diferente.” A loja Pau de Lenho, (62) 3331-1084, recebe encomendas de várias partes do país.

A madeira vem de amigos. Quando deparam com árvore morta no rio, correm até ele. Aos interessados, Roque ensina: “Procurar enxergar as árvores, principalmente aquilo que a gente joga fora. Tudo tem alguma coisa no seu lugar. A exuberância de passar isso pra frente, mobiliário sustentável, sem derrubar, é gratificante.” Enquanto a indústria moveleira aproveita “só 20%” de uma árvore, Roque aproveita tudo. “Com restos faço puxadores, botão, caixinha. Quando não dá mais, vai ser adubo. Ou queimar meu feijão.” Mas o artesão lamenta que o Cerrado perca uma Bélgica de vegetação por ano. “Não consigo arranjar 3 metros cúbicos num ano, e o estado permite que por 76 reais um indivíduo arranje 300 metros cúbicos. É uma loucura.”

(Por Alceu Luís Castilho/Agência Repórter Social)