Editorial

A reação dos sem-garantia

jailton Garcia Protesto em frente à Bovespa: mesmo com a “revolta dos bagrinhos”, conta será pesada Mesmo correndo o risco de perder fôlego no noticiário sobre o derretimento da economia […]

jailton Garcia

Protesto em frente à Bovespa: mesmo com a “revolta dos bagrinhos”, conta será pesada

Mesmo correndo o risco de perder fôlego no noticiário sobre o derretimento da economia mundial depois do grande golpe dos financiamentos hipotecários nos EUA e suas repercussões na Europa, a Revista traz o assunto porque seus efeitos serão de longo prazo. Muito além da quebradeira de bancos e das vertiginosas oscilações das bolsas de valores ao redor do mundo, Europa, EUA e Ásia passarão por recessão econômica, decorrente da diminuição do crédito, dos investimentos, da produção, do consumo e da renda dos cidadãos. Especula-se que, no melhor dos cenários, a recessão americana demore de dois a três anos para ser estancada. Essa possível demora para a retomada da renda provocará danos à qualidade de vida. Resta saber como reagirão os diferentes setores sociais.

O nó no Brasil é o câmbio. Fora de foco, empresas dos mais diferentes setores investiram sem garantias no dólar baixo. Fala-se em 250 empresas com movimentação entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões entranhados em pequenos e médios bancos. Para evitar a quebradeira, o Tesouro injeta dinheiro no mercado. No meio do caminho estão os maiores bancos, que se aproveitam da situação para especular com o câmbio, aumentar juros e comprar carteiras de outros bancos em apuros.

Os reflexos aqui entre nós serão os mesmos que noutros países: menos crédito, desconfiança, menos investimentos, menor taxa de crescimento e menos renda. Talvez os outros países consigam enfrentar a recessão sem gerar muito desemprego. Por aqui, acredita-se, no mínimo, em menos empregos.

Quando presidiu a reunião do Fundo Monetário Internacional, no começo de outubro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ironizou que a desaceleração – a “conta” – ficará novamente com os países emergentes. Na Índia, Lula fala em “revolta dos bagrinhos”, também se referindo aos emergentes, constatação que pode ser estendida aos trabalhadores, às classes remediadas, aos pequenos poupadores e acionistas minoritários, enfim, a legião dos sem-garantia. E mais que assistir passivamente ao desenlace da crise, centrais sindicais, partidos e movimentos sociais precisam exigir do Estado a mesma sensibilidade dispensada aos trilhardários.