A Petrobras no olho do furacão

Ex-presidente da empresa, o geólogo José Eduardo Dutra acredita que a companhia atravessará a tormenta produzida por “interesses oportunistas” e chegará a 2017 produzindo 2,7 milhões de barris por dia

Plataforma P51, totalmente construída no Brasil, no estaleiro de Angra dos Reis (Foto: Petrobras/Divulgação)

No dia 31 de dezembro de 2002, a Petrobras tinha um valor de mercado de US$ 15 bilhões, e na época era a 15ª empresa de petróleo do mundo; em 20 de março deste ano – mesmo depois de ter sofrido uma desvalorização de US$ 70 bilhões –, estava valendo US$ 132 bilhões, e é a sétima do ranking mundial. Em 2002, os investimentos feitos pela companhia consumiram R$ 8 bilhões; em 2012, alcançaram R$ 83 bilhões. A empresa produzia 1,5 milhão de barris em 2002; em 2012, foram 2 milhões. Os números são listados pelo geólogo e diretor corporativo da Petrobras, José Eduardo Dutra. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Dutra, que presidiu a empresa de 2003 a 2005, considera apenas essa breve comparação suficiente para desmoralizar o que chama de “falácia” com que integrantes do PSDB tentam desqualificar a companhia.

Dutra reconhece a recente desvalorização sofrida pela empresa e a atribui a “questões circunstanciais” a que toda companhia do setor de petróleo está sujeita. O que surpreende, segundo ele, é o discurso “desmoralizante” da oposição ao governo federal, para quem é conveniente comparar os resultados da empresa com os dos dois anos anteriores, e não com 2002, quando a gestão da Petrobras estava sob a responsabilidade do governo Fernando Henrique Cardoso. Na entrevista, o diretor abordou diversos aspectos a respeito da situação da empresa e demonstrou indignação com a “luta política” travada em torno do prestígio da companhia. A seguir, os principais trechos (a íntegra pode ser ouvida no site – o atalho é http://bit.ly/rba_dutra).

Interesses envolvidos

“O Congresso Nacional aprovou, entre 2009 e 2010, nas áreas do pré-sal, a substituição do modelo de concessão (para as empresas de exploração) pelo modelo de partilha de produção. O que é isso? Vai ganhar o direito de explorar a área quem oferecer um percentual maior de petróleo à União. Ou seja, a empresa exploradora descobre o petróleo e uma parte significativa, em torno de 50%, vai para a União. Ficou também estabelecida a obrigatoriedade de a Petrobras ter uma participação mínima de 30% sobre os campos do pré-sal. Agora, alegam que a Petrobras não tem capacidade de operar e desenvolver a produção do pré-sal. O que é um absurdo, porque é uma das empresas mais competentes em termos de desenvolvimento e tecnologia em águas profundas. Então, o que temos aí é uma mistura de oportunismo político com interesses inconfessáveis de grandes grupos econômicos que não concordam com o novo modelo, aprovado pelo Congresso.”

Influência no mercado acionário

josé

“A empresa tem capital aberto e ações negociadas nas bolsas de São Paulo e de Nova York. Esse é um tipo de mercado em que há acionistas que atuam com interesses imediatos e outros investidores que não se assustam com as oscilações do mercado porque acreditam na Petrobras do ponto de vista estratégico. E é claro que tem acionistas com uma visão imediatista, interessados no retorno imediato das ações, que preferem que uma empresa invista menos e aumente mais o lucro e, portanto, os dividendos pagos. 

José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás” (Foto: Elza Fiuza/ABr)

Mas é importante registrar que, mesmo nessa situação – em que a Petrobras aumentou muito os investimentos –, o valor de mercado da empresa hoje é quase dez vezes maior que em 2002.”

Índice de produtividade e qualidade humana

“O índice exploratório da Petrobras em 2012 foi de 64%, o que quer dizer que em cada dez postos perfurados foram encontrados petróleo em quase sete. Sabe qual é a média de sucesso da primeira empresa do mundo? Trinta por cento. E, na área do pré-sal, o risco de não achar petróleo é muito menor – o índice de sucesso foi de 82%. Isso demostra a capacidade do corpo técnico da companhia. E nos revolta ver pessoas tentando desqualificar a competência da empresa. No ano passado a Petrobras produziu nos campos do pré-sal 300 mil barris de óleo. Para ser ter uma ideia, no golfo do México demorou 17 anos entre a descoberta e a produção de 300 mil barris por dia. No Mar do Norte, demorou nove anos. No pré-sal brasileiro chegou-se a uma produção de 300 mil barris por dia em sete anos. É uma façanha. A Petrobras tem um corpo de empregados, técnicos, geólogos, engenheiros com capacidade reconhecida. É uma referência internacional, e, por interesses oportunistas e eleitorais, acabou no olho do furacão. Mas vamos atravessar essa tormenta e chegar a 2017 produzindo 2,7 milhões de barris por dia.”  

Conteúdo nacional

“O Lula dizia o seguinte: ‘Até dez anos atrás, este estaleiro (de Angra dos Reis) tinha milhares de pessoas trabalhando, e hoje está às moscas, porque a indústria naval brasileira, que tinha chegado a ser a segunda mais importante do mundo na década de 1970 e 1980, foi totalmente dizimada por falta de política e investimento’. Pois bem, a partir da nossa gestão, introduzimos o conceito de conteúdo nacional mínimo nas encomendas da Petrobras. Isso significa a companhia ter um papel de indutor do desenvolvimento industrial do país. Exatamente em função das encomendas da Petrobras, das plataformas, das sondas, que passaram a exigir um conteúdo nacional, mas não um conteúdo nacional que não possa ser atendido, hoje, em média, 65% das encomendas da Petrobras são construídas no Brasil. A partir do momento em que você aumenta as encomendas no Brasil, os empresários podem investir mais, podem treinar melhor os engenheiros e os técnicos capacitados, e isso aumenta a produtividade. Esse é um papel que nós consideramos fundamental.”

Saída da estagnação

“Há anos o parque de refino brasileiro ficou estagnado. Em 2003, a última refinaria construída no Brasil era a de Henrique Lage, em São José dos Campos, inaugurada em 1982. Hoje, após investimentos, está sendo construída a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o complexo petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, e houve aumento da capacidade das refinarias já existentes. O refino em 2003 era em torno de 1,7 milhão de barris por dia; hoje é de 2,2 milhões de barris. Muita coisa precisou ser feita nesse período, daí os grandes investimentos. Teve atraso? Teve atraso, sim. Como a Petrobras ficou mais de 20 anos sem construir uma refinaria, teve de reaprender na prática. Isso fez com que tivéssemos atrasos na Refinaria Abreu Lima, na região metropolitana de Recife, mas ela vai começar a produzir em 2014, e vai reduzir esse déficit em relação à oferta de combustível do Brasil.”

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