Os fatos de fato e os que se criam

A informação é matéria-prima do jornalismo, mas nas engrenagens de uma redação é longo o caminho até que um fato vire notícia

Às vezes, até não fatos podem virar destaque. Acontece todo dia, às vezes como acidente de trabalho, outras como instrumento de pressão. Recentemente, uma suposta reunião de emergência para discutir o setor de energia virou manchete de jornal. Depois, a crise anunciada quase desapareceu do noticiário. 

É fato que empresas de energia de governos tucanos não aderiram à diminuição das tarifas

Também se divulgou uma fusão de vulto no setor financeiro, posteriormente desmentida com pedido de desculpas. Teria sido uma “falha interna de procedimento”.

Assim também foi quando se falou que o ex-presidente Lula iria “voltar a andar” pelo país. Alguém disse que estavam de volta as caravanas da cidadania, organizadas nos anos 1990, inclusive com roteiro pronto. E começou-se especular sobre as intenções por trás de tal expedição. De fato, o ex-presidente vai viajar, retomar contato com as pessoas, mas não há caravanas sendo planejadas. Elas tiveram seu momento e têm importância do ponto de vista histórico, ao ajudar a despertar consciências para alguns dos graves problemas brasileiros. E podem ter servido como ponto de partida para a formulação de políticas públicas.

Pode acontecer ainda de fatos se repetirem ano após ano, como as enchentes. O que deveria fazer com que pelo menos algumas dessas ocorrências fossem evitadas, ou tivessem menor impacto no cotidiano de tanta gente. No final de janeiro, o noticiário foi ocupado com a tragédia ocorrida em uma boate em Santa Maria, no interior gaúcho, em que mais de 200 pessoas morreram – grande parte jovens que mal começavam a conhecer a vida. Seguiu-se uma série de reportagens sobre os problemas que podem existir nas casas noturnas. De novo, se fala em arrumar a porteira depois da boiada passar.

E se aproxima a Copa das Confederações, prévia do Mundial de 2014. Mais uma oportunidade para saber o que andam fazendo autoridades e cartolas nesse nem sempre bem jogado mundo da bola.

Que a sociedade possa discutir mais fatos “de fato”, com diversidade de opinião, e menos fatos criados por quem tem lado bem definido na batalha da informação.