Rádio Brasil Atual e a resistência do índio

O “suicídio coletivo” se espalhou pela internet e o mundo descobriu os Guarani-Kaiowá

Protesto simboliza os mortos da etnia ameaçada (Foto:Wilson Dias/ABr)

Foi preciso que o aviso de resistência até a morte contra a expulsão de algumas áreas em Mato Grosso do Sul fosse interpretado como aviso de suicídio coletivo dos índios Guarani-Kaiowá e se espalhasse pelas redes sociais, repercutindo em todo o mundo. Não fosse assim, talvez o drama enfrentado por essa população não tivesse chamado a atenção da sociedade, tampouco levado as autoridades brasileiras a se manifestar. No último dia 30, a Justiça Federal no estado suspendeu a liminar que determinava a retirada de 170 índios da fazenda Cambará, em Iguatemi. No entanto, limitou o território ocupado pelos indígenas a apenas um dos 760 hectares da propriedade até que a Fundação Nacional do Índio (Funai) demarque uma reserva para a comunidade Pyelito Kue.

A decisão judicial está longe de resolver a questão. Distantes de suas terras, os indígenas passam fome – ficam dias e dias com apenas um tererê (bebida típica) por dia –, adoecem e muitos se suicidam. Nos últimos 20 anos, quase mil deles, a maioria jovens, tiraram a própria vida. “O plano do país é transformar esses indígenas em trabalhadores para as piores tarefas, com as remunerações mais baixas. Em troca da terra negada, recebem cestas básicas de má qualidade, que geralmente chegam atrasadas”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual o antropólogo e jornalista Spensy Pimentel, estudioso desse grupo indígena.

Segundo ele, a situação é mais grave em Mato Grosso do Sul, que tem o governo, deputados e prefeitos, em sua ampla maioria, controlados por fazendeiros que cobiçam e tiram dos índios suas terras. “Falta o país perceber a importância e a gravidade da situação e priorizá-la”, afirmou. “Para o índio, a terra não tem o mesmo valor econômico que tem para os fazendeiros. Suas terras são o seu modo de ser, de cultivar, de viver. E isso está sendo negado a eles.”

Ouça a entrevista completa no site da rádio. O atalho é: bit.ly/rba_spensy

 

Morte coletiva

O assessor de movimentos sociais e escritor Frei Betto, colunista da emissora, destacou a urgência de o governo brasileiro demarcar as terras dos Guarani-Kaiowá, o que já deveria ter sido feito em 1993. “De nada adianta o governo assinar documentos em prol dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável, se isso não se traduzir em gestos concretos para preservar os direitos dos povos indígenas, que pela sua natureza são os que mais preservam o meio ambiente.”

Frei Betto lembrou que os Guarani-Kaiowá falam em morte coletiva, que é diferente de suicídio coletivo no contexto da disputa pela terra. “O suicídio é um recurso frequente para resistir a ameaças. Eles preferem morrer a se degradar. Se os pistoleiros os tirarem, eles vão resistir”, afirmou.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de 2003 a 2011 foram assassinados 503 índios. Mais da metade (279) são da etnia Guarani-Kaiowá. Até a chegada dos portugueses, havia 5 milhões de indígenas, que dominavam centenas de idiomas. Hoje são 817 mil, dos quais 480 mil aldeados divididos em 227 povos, ocupando 3% do território nacional.

Ouça o comentário de Frei Betto no site: bit.ly/betto_kaiowa.

Sintonize
93,3 FM – Litoral paulista
98,9 FM – Grande São Paulo
102,7 FM – Noroeste paulista
Na internet – www.redebrasilatual.com.br/radio