Revitalização das cidades e da política

A imprensa contribui para o aumento dos votos brancos e nulos e das abstenções ao satanizar a política e promover o desinteresse dos cidadãos

A maioria do eleitorado votou com a cabeça na sua cidade: momento de renovar (Foto:Paulo Pinto/fernandohaddad13/Flickr/CC)

No dia seguinte ao segundo turno das eleições municipais, o julgamento do chamado mensalão desapareceu do noticiário. Não que tenha terminado. O Supremo Tribunal Federal concedeu-se um intervalo de duas semanas para que o relator Joaquim Barbosa pudesse se submeter a um tratamento de saúde anteriormente programado. 

Mesmo tendo lideranças como Dirceu e Genoino expostas a um linchamento, o PT foi o partido mais votado em todo o país nestas eleições

No momento da interrupção, os magistrados discutiam penas cabíveis aos julgados culpados. Mas o interesse do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, já estava atendido. Em entrevista a um jornal no início de outubro, Gurgel havia dito que seria “positivo” se o julgamento interferisse nas eleições. E, no momento em que o STF deu-se a pausa, o mais importante – as manchetes com as condenações de José Dirceu e José Genoino – já estava disponível. Segundo pesquisa do Datafolha, mensalão teve “nenhuma influência” na decisão do voto para 51% dos entrevistados em São Paulo. “Um pouco de influência” foi a resposta de 14%, e 32% responderam “muita influência”. Talvez os jornais esperassem mais, mas o processo não deixou de ter seu impacto.

Mesmo tendo lideranças como Dirceu e Genoino expostas a um linchamento, o PT foi o partido mais votado em todo o país nestas eleições. A legenda conquistou pouco mais de 17 milhões de votos no primeiro turno, superando o PMDB, com 16,5 milhões. No segundo, obteve mais 7 milhões de votos, à frente do PSDB (5,6 milhões) e do PMDB (2 milhões). O PSB de Eduardo Campos ficou satisfeito com seu crescimento, o PSD de Gilberto Kassab, idem, e igualmente o mineiro Aécio Neves. 

Noves fora a contaminação do debate por temas e personagens alheios ao processo, muitos comemoraram. Entre estes não está José Serra, que ouviu até de gente de seu partido que é hora de renovação. A maioria do eleitorado votou com a cabeça em sua cidade e puniu más administrações. Pode-se atribuir ainda aos maus gestores o aumento dos votos brancos e nulos, assim como o crescimento das abstenções. Entretanto, eles podem dividir com os meios de comunicação esse crédito. Afinal, mais que fiscalizar, discutir problemas ou projetos, o noticiário, salvo exceções, sataniza a política e promove o desinteresse dos cidadãos. Enfim, não faltam recados para as novas lideranças que emergem desse outubro com o desafio de revitalizar a sua cidade e também a política.