Vocação para a censura

PSDB voltou à carga contra direito dos veículos de comunicação dos trabalhadores de difundir informação

Acompanhada de policiais, oficial de Justiça recolhe exemplares da Folha Bancária censurada pela coligação do PSDB (Foto: Alex Silva/AE)

Sexta-feira, 28 de setembro. A reportagem da Rede Brasil Atual acompanha uma atividade de campanha do candidato do PSDB, José Serra. Ao final da jornada, rodeado de jornalistas, o tucano dizia que voltar ao lugar de sua infância lhe dava a ideia de criar um sistema municipal de ensino técnico: “Vamos aumentar em dezenas de milhares o número de alunos, em parceria com o governador Geraldo Alckmin. É uma chance para crianças de famílias mais humildes subirem na vida”, propôs. “Isso me veio agora à cabeça lembrando de minha infância e juventude aqui.”

Nesse momento, o repórter da RBA questiona: “A ideia veio agora à cabeça ou é seu projeto de governo?” O tucano devolve: “De onde você é?” O repórter retruca: “Interessa?” Serra insiste: “Quero saber de onde”. O repórter informa: “Rede Brasil Atual”. Serra não responde. Ao final, o repórter perguntou-lhe se só respondia a perguntas favoráveis: “Não, eu não respondo pergunta de sem-vergonha. É só isso”, xingou.

Uma nota publicada no site do PSDB agravou a atitude de seu candidato, ao chamar o profissional de “suposto repórter” e acusá-lo de ser enviado pelo PT “para tumultuar a coletiva de imprensa do candidato”. A Editora Atitude, que mantém a RBA, pretende ingressar com ação judicial contra a conduta do tucano.

O editor da RBA, João Peres, comentou o episódio em artigo para o portal do Observatório da Imprensa: “Ao chamar de ‘sem-vergonha’ o repórter da Rede Brasil Atual, o tucano sintetiza a noção de um segmento da classe política brasileira que acredita que o regime democrático é bom apenas até o ponto em que a liberdade de imprensa está sob controle”, escreveu.

Uma semana depois, na noite de 4 de outubro, uma oficial de Justiça acompanhada de policiais invadiu sede e subsedes do Sindicato dos Bancários de São Paulo. A operação foi feita a pedido da Coligação Avança São Paulo, de Serra, amparada por liminar concedida pela juíza eleitoral Carla Themis Lagrotta Germano. A ordem era recolher o jornal da entidade, Folha Bancária, e retirar seu conteúdo da internet – por conter informações que “denigrem” a imagem de Serra, capazes de provocar “dano irreparável” à sua candidatura.

A presidenta do sindicato, Juvandia Moreira, acatou a determinação judicial, mas criticou a ação: “O sindicato sempre lutou pela democracia e pela liberdade de expressão. Desde o ano passado estamos fazendo o debate do que afeta a qualidade de vida da cidade. Os trabalhadores têm direito a analisar as propostas dos candidatos. Pode haver divergência, mas repudiamos a censura”, afirmou.

Não é a primeira vez que o partido investe contra a liberdade de expressão dos trabalhadores. A Revista do Brasil foi alvo de suas ações em 2006 e em 2010. A má relação de Serra e aliados com a mídia independente é notória. Este ano, o PSDB apresentou à Procuradoria Regional Eleitoral pedido de investigação da publicidade do governo federal em veículos considerados contrários aos seus interesses. O pedido foi rejeitado.

Semanas depois, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou relatório de despesas com propaganda oficial do governo Dilma. Dos R$ 161 milhões pagos a cerca de 3 mil veículos de comunicação, R$ 112 milhões (70%) beneficiaram apenas dez empresas, entre as quais Globo, Abril e Folha.