Os recados do eleitor

O resultado das urnas convida a reflexões. O país avança, mas expõe uma face atrasada. Elege candidatos preocupados com o futuro e coronéis que intimidam jornalistas

Solução de problemas das cidades, sobretudo dos mais carentes, exige ética e projetos consistentes de governo (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

O resultado das urnas, assim como o de um campeonato de futebol, traz sempre oportunidade para reflexões e todo tipo de palpite. O país avança, mas continua expondo uma face atrasada. Elege candidatos preocupados com o futuro das cidades e coronéis que intimidam jornalistas.

Ao comentar os resultados do primeiro turno das eleições municipais, o sociólogo Cândido Grzybowski falou sobre a importância de um sistema que valorize mais o voto do cidadão, que nem sempre se sente representado por quem elegeu. O poder econômico segue tendo peso excessivo na escolha, e muitos se tornam “donos” do cargo, e não representantes do eleitor.

Esse hiato é de dupla responsabilidade. Quem elege precisa conhecer seu candidato, e não votar no primeiro que apareça com um bom discurso, sem explicar o que pretende fazer. E quem é eleito precisa se comprometer, de fato, com sua cidade – e com a cidadania. Também pode ser de bom-tom não dar ouvidos a analistas que brigam com os fatos e tentam adaptar a realidade a suas posições políticas nada isentas. Isso aconteceu muito em 2010 e se repete agora. Coincidentemente, sempre a favor de determinados candidatos. 

Por alguns desses profetas, não seriam vistos os resultados do primeiro turno. Mas a realidade contrariou as previsões – ou seria melhor dizer “torcida”? Segundo os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas maiores cidades do país – aquelas com mais de 200 mil eleitores –, o PT conquistou o maior número de prefeituras cujas eleições já foram definidas: oito. Em seguida, vieram PSDB, com seis, e PSB, com cinco. Considerados todos os municípios, PMDB e PSDB perderam prefeituras, enquanto PT e PSB ampliaram as administrações sob sua gestão.

É óbvio que a ética, na disputa política e na condução do cargo, deve ser um princípio de qualquer governante. Mas isso tem de valer para todas as forças políticas, e não apenas para alguns escolhidos. O eleitor exige do candidato, além de bom caráter, as boas propostas e boas soluções para sua cidade. E quem governa precisa priorizar, sempre, a população mais carente de ações públicas, em vez dos historicamente privilegiados, desinteressados em transformações voltadas para a justiça social. Parece ser um fenômeno crescente na população brasileira o emprego da astúcia política para buscar identificar essas virtudes.