Novas ondas no ar

Expansão da Rádio Brasil Atual alcançará 22 milhões de pessoas na Grande São Paulo, litoral e interior. E TVT celebra 2 anos no ar com programa dedicado a movimentos sociais

28 de agosto: Rádio em expansão e 29 anos da CUT (Gerardo Lazzari/RBA)

Mais um passo foi dado no projeto de expansão da Rádio Brasil Atual. Operando em caráter experimental desde o início de agosto, a emissora teve seu lançamento oficial no último dia 28, nas frequências 98,9 FM na Grande São Paulo, 93,3 FM na Baixada Santista, e 102,7 FM no noroeste paulista. Com alcance estimado para uma população de 22 milhões de pessoas, a emissora agora passa a funcionar oficialmente, com sua programação diferenciada.

“A princípio, teremos o Jornal Brasil Atual, das 7h às 9h da manhã, todos os dias. Ao longo do dia, num primeiro momento, a programação tocará música nacional, de qualidade, até que a gente formate e consolide uma grade completa, de conteúdo exclusivo”, relata Zé Mourão, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Dois programas que fazem parte da grade exclusiva da TVT – emissora que integra a plataforma de comunicação mantida pelos trabalhadores – terão sua gravação ao vivo, que já pode ser acessada em tempo real no site tvt.org.br, exibida também ao vivo pelas rádios. São eles o Bom para Todos, às 16h às segundas-feiras, e o Melhor e Mais Justo, às quintas-feiras, no mesmo horário.

O conteúdo noticioso será produzido por equipes das emissoras em São Paulo, no litoral e no interior, por organizações locais e por veículos parceiros no empreendimento, como a própria TVT, o portal da Rede Brasil Atual (RBA), a Revista do Brasil. O Jornal Brasil Atual já tem em seu time colunistas como o cientista político e jornalista Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o teólogo e escritor Frei Betto, o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, e o escritor Flávio Aguiar, correspondente na Europa.

“Nossa missão é dar uma contribuição à sociedade, para que os movimentos sociais tenham sua voz amplificada. É um canal para que os movimentos sociais possam se expressar e se ver. Não queremos ter propriedade de nada. Apenas somos intermediários daqueles que realmente produzem informação”, afirma Valter Sanches, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos dos ABC e presidente da Fundação Comunicação, Cultura e Trabalho, entidade mantenedora da TVT e parceira da RBA no projeto de rádio.

“Vamos continuar fazendo o que a gente mais sabe, que é questionar o mundo do trabalho, inovar na área da comunicação, e exigir que o Brasil busque o caminho do crescimento tendo como base a solidariedade e a sensibilidade social, e não o caminho ditado pelas elites e por poucos grupos de mídia”, diz o diretor da RBA, Paulo Salvador.

Para o jornalista Osvaldo Luiz Colibri Vita, a rádio já traz na bagagem a experiência de oito anos de jornal diário e outros quatro de rádio-web, sempre mantida por entidades sindicais. “Teremos programação jornalística plural e cidadã. Além de programas com música contextualizada, a exemplo do Gogó de Aquiles, Sexta Musical, História das Canções e Clube do Choro. A grande diversidade musical brasileira nåo se reflete na mídia tradicional de rádio”, observa Colibri.

Em pronunciamento enviado à cerimônia de lançamento da rádio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinalou que a democracia brasileira se fortaleceu com o “extraordinário processo de inclusão social” percebido nos últimos anos e que o acesso a informação também é um componente desse processo. “Consolidar nossa democracia passa por democratizar ainda mais os meios de comunicação. Nesse caminho, muito me alegra ver que a TVT é uma realidade, há dois anos no ar. E que a Rádio Brasil Atual soma-se aos meios de comunicação direta com milhões de brasileiros. Vida longa à rádio dos trabalhadores”, declarou Lula.

História em movimento

A parceria entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e o Sindicato dos Bancários de São Paulo em empreendimentos coletivos de comunicação voltada para toda a sociedade, e não apenas para suas categorias, começou em 2006, com o lançamento desta Revista do Brasil. A publicação conta também com dezenas de entidades sindicais dessas categorias em várias regiões, além de químicos do ABC e de São Paulo, do setor de energia (Sinergia, com sede em Campinas), professores do Distrito Federal, entre outras, permitindo a circulação de mais de 300 mil exemplares por mês.

No ABC, com a criação da Fundação Comunicação, Cultura e Trabalho, surgiu em 2007 o jornal ABCD Maior, com três edições semanais – às terças, quintas e sábados, e tiragem de 25 mil exemplares cada uma –, além da TVT. Em São Paulo, a Editora Atitude, responsável pela RdB, lançou em 2009 o portal Rede Brasil Atual, que funciona como uma agência de notícias do Brasil e do mundo e atua como canal multiplicador do noticiário produzido por todos os veículos frutos dessa parceria.

Mantém ainda edições regionais impressas do Jornal Brasil Atual em 14 cidades do interior e da Grande São Paulo, com conteúdo regional local. As edições, mensais, em Barretos, Barueri, Bebedouro, Bragança, Catanduva, Guaíra, Jandira, Itanhaém, Itariri, Jundiaí, Limeira, Marília, Praia Grande e Peruíbe somam uma tiragem total de 110 mil exemplares.

A presidenta do Sindicato dos Bancários, Juvandia Moreira, destacou que a preocupação com a comunicação sempre esteve associada à história da entidade e foi fundamental tanto no embate do dia a dia com os bancos como na luta pela democracia no país: “Lembro do início, com megafones nas portas dos bancos, depois os carros de som, a Folha Bancária. São experiências que fazem parte da construção histórica que possibilitou a criação desse projeto que hoje é um orgulho para nós”.

Sérgio Nobre, presidente dos Metalúrgicos do ABC e secretário-geral da CUT, também resgatou o aprendizado com a comunicação nas décadas passadas, o papel da “rádio peão” nas portas de fábrica e as primeiras batalhas por concessões públicas. “Isso me faz relembrar 25 anos atrás, quando o primeiro pedido de concessão de rádio foi entregue pelo Lula, na época deputado federal, ao então ministro da Comunicação, Toninho Malvadeza (Antonio Carlos Magalhães).”

Durante o lançamento da rádio, os ex-presidentes dessas entidades, o bancário Luiz Cláudio Marcolino (hoje deputado estadual) e o metalúrgico José Lopez Feijoó (hoje assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República), foram lembrados como os grandes dessa parceria. “Essa é uma parceria antiga na construção de instrumentos alternativos”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas, destacando o papel de Marcolino e Feijoó na iniciativa de unir esforços em busca de meios de informação que abrissem espaço para os vários pontos de vista que compõem a sociedade. “Quando colocamos um projeto como esse em prática é porque não queremos que a comunicação seja exclusividade de meia dúzia de famílias e empresários, assim como é hoje.”

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Na TVT, os donos da voz

Embora o projeto da TVT seja acalentado há mais de 25 anos, só virou realidade em 23 de agosto de 2010, quando começou a operar a primeira concessão de canal aberto obtida por trabalhadores no Brasil. Não por acaso, o tema da programação comemorativa foi “O sonho do Brasil que queremos”. Do programa especial com 40 minutos de duração participaram mais de 40 pessoas, falando sobre o sonho do direito à informação.

“Em que TV comercial se pode ver, no mesmo dia, a Mara da Granja Julieta, da cooperativa de catadores, o Binho, do Sarau do Binho, e uma série de lideranças importantíssimas que o público que assiste ao Faustão não conhece?”, disse a jornalista e blogueira Maria Frô. Leia trechos de depoimentos de algumas personalidades.

Assista na íntegra

“Nossa missão é fazer com que todos acreditem no direito de construir, fazer planos. Os movimentos sociais mostram alternativas. A TVT é a concretização de um sonho.”
Maria Helena Negreiros, professora da rede pública de ensino

“As pessoas são inteiras na dor e na esperança. O pobre e o homem que está na solidão da rua também sonham. Os movimentos vivem para ver seus sonhos se realizar. Precisam de um espaço como a TVT.”
Júlio Lancelotti, Pastoral do Povo de Rua de São Paulo

“O sonho se realiza com a indignação e a articulação de lutas numa relação solidária. Com a criatividade desse povo rico e generoso é possível construir as utopias.”
André Luzzi, Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida

“Os meios de comunicação são importantes para mostrar que as camadas populares querem não só um lugarzinho ao sol, mas um novo sentido de sociedade.”
Arildo Mota, Unisol Brasil – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários

“Nosso sonho é um futuro promissor para a juventude, com acesso a uma educação de qualidade, à universidade, num contexto democrático.”
Alexandre Silva, presidente da União Estadual de Estudantes de São Paulo

“Nosso trabalho é uma forma de sobreviver e cuidar da natureza. A reciclagem no Brasil depende de vontade política e da educação das pessoas.”
Mara Lúcia Sobral Santos, da Cooperativa de Catadores da Granja Julieta, em São Paulo