Tempo de ousadia

A atitude com que conduziu esse ano e meio de governo confere à presidenta respaldo para poder ir colocando em em dia pendências reclamadas pela sociedade

O maio de Dilma teve instalação da Comissão da Verdade, vetos a pontos que pioravam o Código Florestal e queda recorde de juros (Foto: Wilson Dias/ABr)

O Brasil destacou-se no cenário internacional nos últimos anos por buscar uma política que alie crescimento econômico e redução das desigualdades, com as medidas de transferência de renda, valorização do salário mínimo, correção da tabela do IR, entre outras. A crise internacional, no entanto, tem demandado ações mais ousadas. A taxa básica de juros chegou a 8,5% ao ano, seu menor patamar histórico. 

Para um dos principais líderes da oposição, Roberto Civita, dono da Editora Abril e da revista Veja, e seus pares, a prioridade é impedir que gente da imprensa seja investigada pela CPMI do Cachoeira

O governo Dilma já vinha exigindo dos bancos o barateamento do crédito para pessoas físicas e empresas. Ao diminuir as despesas da União com juros, abre caminho para investir mais em infraestrutura e intervir no câmbio. O real valorizado em relação ao dólar encarece os produtos nacionais no exterior e afeta a competitividade das empresas.

A ousadia com que inova na gestão da economia confere popularidade à presidenta. Esse respaldo possibilitou que, em maio, fossem colocadas em dia pendências reclamadas pela sociedade. A PEC 438, que permite o confisco de propriedades flagradas com trabalho análogo à escravidão, foi aprovada. Os piores pontos introduzidos pelos deputados no Código Florestal foram vetados. A instalação da Comissão da Verdade para investigar crimes contra a humanidade praticados por agentes da ditadura foi instalada. 

Mas, na agenda da imprensa comercial, nada mais importa. Para um dos principais líderes da oposição, Roberto Civita, dono da Editora Abril e da revista Veja, a prioridade de seus pares é impedir que gente da imprensa seja investigada pela CPMI do Cachoeira – chefe de organização criminosa suspeito de também chefiar jornalistas e políticos. Para isso, Civita recorreu mais uma vez a Gilmar Mendes, ministro do STF e velho parceiro em tentativas de aplicar um pé no traseiro de Lula. Quando voltou às páginas da revista para acusar o ex-presidente de chantageá-lo, Mendes lançou uma cortina de fumaça no depoimento à Comissão de Ética do Senado de Demóstenes Torres – igualmente bem relacionado com Veja, Cachoeira e Mendes. Até Aécio Neves, ainda candidato a líder da oposição, reagiu à suposta atitude de Lula  perante Mendes: “Ninguém está acima da lei e ninguém pode tudo no Brasil”, disse o tucano. É isso aí, senador. Ninguém. Nem os Civita, nem os Marinho. Ou, como defende o manifesto dos blogueiros pela regulação dos meios de comunicação: “Nada além da Constituição”. Para todos.