Oásis ambiental e cultural

Jardim botânico e, ao mesmo tempo, museu a céu aberto, Instituto Inhotim (MG) se destaca pela harmonia entre conservação e cultura em cidade marcada pela mineração

Chegar ao Instituto Inhotim é como deparar com um oásis. A área particular de 100 hectares fica no meio de um território devastado pela mineração no município de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. O instituto integra um jardim botânico e grandes instalações de arte contemporânea nacional e internacional. 

Instalação “Troca-Troca”, do artista Jarbas Lopes, brinca com as cores primárias e a graça do Fusca. (Foto: Rosino/Creative Commons)

São  centenas de espécies de palmeira do mundo inteiro, bromélias, orquídeas, antúrios e outras belezas, dispostas harmoniosamente em meio a cinco lagos. Nessa paisagem, um museu com 500 obras e exposições fixas e itinerantes de artistas das mais diversas escolas completa a cena. 

É impossível não notar o contraste entre as erosões e o desmatamento do entorno, onde a extração de recursos naturais deixa suas marcas, e o trecho de mata nativa ainda intocada. Um aspecto curioso no histórico do espaço é o fato de um dia ter sido uma fazenda, recuperada pela iniciativa do empresário do ramo minerador e colecionador de arte Bernardo Paes, à frente dela desde os anos 1980. A partir de 2005 a área começou a ser aberta ao público e em 2010 tornou-se jardim botânico. O toque do paisagista Burle Marx pode ser percebido em vários trechos. O Centro de Educação e Cultura do instituto leva seu nome.  

Dependendo do interesse do visitante pelos propósitos do espaço, talvez um único dia não baste para conhecer tudo. Ainda mais para quem tem disposição para longas caminhadas – com mapas e sem medo de se perder, nem de se encontrar. Há também passeios monitorados, com sabor ambiental e artístico, em horários programados. Se bater o cansaço, é só sentar em um dos bancos de madeira ao longo das trilhas. Ou apelar para os carrinhos de golfe alugados por R$ 10. Isso se não se constranger com a sensação de estar num cenário de um seriado de TV como a Ilha da Fantasia.

A possibilidade que não há é encontrar alguém fazendo piquenique. O local tem bons restaurantes, cachorro-quente, bar, cafés, pizzaria e omeleteria. E, claro, a lojinha básica de jardinagem e suvenires não pode faltar. 

Não estranhe se, de repente, topar com esculturas ao ar livre, acomodadas em piscinas, ou com Fuscas coloridos em meio aos jardins. Entre as curiosidades impressionantes está a instalação Sonic Pavilion, de Doug Aitken, na qual se pode ouvir ruídos do fundo da Terra. Uma perfuração com 200 metros de profundidade ligada a microfones possibilita essa interação. Num espaço recoberto por uma espécie de cúpula pode-se sentar ou deitar e se deixar levar pelos sons. 

Instituto Inhotim
Brumadinho (MG). De terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30. Sábado, domingo e feriado: das 9h30 às 17h30. R$ 20 e R$ 10 (estudantes e maiores de 60 anos). Entrada franca às terças. Informações: www.inhotim.org.br

Na categoria estética, a obra da japonesa Yayoi Kusama é uma das que sobressaem. Dezenas de esferas brilhantes, à medida que se movem sobre as águas de uma piscina a céu aberto, formam desenhos os mais variados. Volta e meia é possível flagrar diferentes aves interagindo com esses círculos, nas árvores frutíferas das proximidades. Com uma pegada socioambiental, outra instalação, De Lama Lâmina, do norte-americano Matthew Barney, desperta reflexões sobre a destruição da natureza.

Entre as obras de artistas brasileiros, as de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, na Galeria Cosmococa, misturam propostas de audiovisual com as quais o público pode interagir com a arte, tornar-se parte dela, entrando em uma piscina ou deitando em redes. 

Enfim, são infinitas as experiências e possibilidades entre as criações conceituais e as belezas naturais. O viveiro educador, em formato de mandalas, o trabalho de recuperação e conservação de remanescentes de Mata Atlântica, como samambaias-açus e palmitos, o jardim de arbustos de patas-de-elefante.

Jardins de Burle Marx (Foto: Eduardo Loureiro/Creative Commons)

Inhotim_Jardins de Burle Marx (Foto: Eduardo Loureiro/Creative Commons)